Queixodevidro escreveu:Você tem razão e mostrou conhecimento. De qualquer forma, isso é discussão pra outro tópico. João Cabral é genial, Drummond também, colocaria ambos no mesmo nível do Machado e do Rosa, mesmo considerando gêneros. Mas ainda não colocaria Nelson Rodrigues nesse grupo. As histórias, ou dramaturgia do Rodrigues são planas, nada demais, estão sempre girando em torno de sexo e traição. Tornaram-se moda como os livros do tal Dan Brown nos dias de hoje. Só. Mas volto a dizer, é minha opinião, nada mais.
Post enviado através do poder da mente.
Bom, é uma questão de preferência...
Acho que Machado está mesmo em outro patamar. Quanto aos outros, não sei. Difícil comparar gêneros, é como medir Picasso contra Kafka- essas coisas.
Mas a maior força do Nelson tá no teatro, e essa temática que você critica é uma das maiores responsáveis por ela. É muito mais um material que ele usa, não como contexto ou de modo afirmativo. Ele pega esses valores de um tipo de vida social particular e lança poeticamente num plano quase atemporal. Faz tragédia de situações banais na vida do homem comum, quase um sub-homem. Corrói o modelo de vida burguês ancorado na célula familiar e na divisão moderna do trabalho. Revela o caos que fervilha sob essa suposta ordem, a natureza que avança e estraçalha sem qualquer piedade as mais orgulhosas pretensões da cultura. Exibe essa destruição de um modo paradoxal que, tangendo o absurdo, arranca um riso indecente e vexaminoso de quem presencia a catástrofe. O trágico e o cômico se misturam de uma forma descaradamente promíscua. Tudo isso lapidado por uma linguagem cuidadosamente trabalhada: seca, econômica, rascante, em que pobreza de expressão e manifestação de beleza estranhamente confluem.
Além de ser um grande autor, o Nelson Rodrigues criou uma forma de expressão singular, inconfundível- um idioma próprio. Poucas autores fazem isso.
Há outros grandes autores, certamente, mas não conheço nenhum que tenha reunido essas características que se encontram no teatro dele.
A experiência de ler Nelson se aproxima da experiência de ouvir Miles, Hendrix e outros: nos primeiros acordes já se reconhece quem está tocando, Assim como é possível reconhecer um grande pintor apenas observando um cantinho isolado do quadro, porque aquele estilo de pincelada é inconfundível.
Enfim- embora isso realmente não importe, quando chamam o cara de gênio não é nenhum exagero.