Como ela é meio longa, não vou postar toda, quem quiser entra e lê. Mas eu achei esse trecho bem interessante:
ENCONTRO – A senhora já percebe um aumento no número de casos de pessoas com problemas provenientes do uso excessivo das redes sociais?
GILDA PAOLIELLO – Essa situação vem crescendo atualmente tanto em quantidade como na gravidade dos sintomas. As pessoas procuram ajuda por estarem se sentindo deprimidas, mal-humoradas e angustiadas. Quando começam a falar sobre suas rotinas de vida, é possível detectar que elas de fato não têm uma vida real e estão se refugiando nesse tipo de recurso (redes sociais), com a ilusão de que as relações são mais possíveis, mais fáceis, mas de forma completamente alienada e compulsiva. Uma pesquisa conduzida recentemente pelo Ibope mostra que os brasileiros são os que ficam mais tempo conectados à internet – e que 10% desses usuários desenvolvem dependência. Essas pessoas não conseguem limitar o uso da internet, o que provoca os sintomas de mal-estar emocional descritos antes. O acesso irrestrito à internet pelo celular vem contribuindo muito para o crescimento desse abuso. A ilusão é ter o mundo ao alcance das mãos; a realidade é ser prisioneiro das redes virtuais.
É uma escapatória?
Sim. As pessoas têm dificuldades em suportar as angústias habituais do dia a dia e vão atrás de uma solução mágica. As redes sociais se apresentam como uma alternativa muito atraente, já que são capazes de disfarçar essas angústias e a solidão e dificuldades de relacionamentos tão comuns em nossos dias. Ali, nas redes, uma pessoa mantém contato com dezenas de outras. Mas, quando se percebe que essas relações são, em sua grande maioria, fictícias, apenas virtuais, essas pessoas caem em um grande vazio e a situação se inverte – isto é, o que seria uma solução torna-se uma armadilha.
Por que as pessoas se sentem tão atraídas por ferramentas como Facebook e Twitter?
Há vários pontos de estímulos, sem precedentes. Além de anular as distâncias, colocando-nos próximos de quem tem interesses comuns conosco, mas mora do outro lado do mundo, eu citaria três deles como os principais. O primeiro seria o anonimato. As pessoas conseguem se desinibir e falar muito mais de suas fantasias nesse ambiente e, com isso, criam verdadeiros personagens, refugiando-se neles. Outro ponto seria a não necessidade de uma confrontação visual e física, como ocorre nas relações reais. Isso possibilita que indivíduos mais frágeis e tímidos, ou seja, aqueles com mais dificuldade de relacionamento, efetivamente se relacionem. O terceiro ponto é que as redes sociais são muito democráticas. São horizontais, não têm uma hierarquia ou um líder, permitindo que todos sejam iguais. Em síntese, a grande atração, e ao mesmo tempo risco, é que a rede permite à pessoa substituir-se a si mesma, podendo exercer todas as suas fantasias, especialmente as sexuais, adotando outras identidades e criando realidades alternativas sem as barreiras do contato interpessoal direto, que pode ser ameaçador a essas pessoas.
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Existe um perfil de quem desenvolve a fomofobia?
Trata-se de um problema que atinge uma quantidade razoável de pessoas, em geral, frágeis e insatisfeitas com a própria vida. Isso pode ser interpretado como se houvesse um vazio no mundo interno do indivíduo. A questão vem de dentro para fora. Enquanto alguns podem achar um privilégio estar em casa almoçando com a família em um momento íntimo e agradável, outros veem isso como uma limitação quando confrontado com situações mais sofisticadas vividas por seus amigos das redes sociais. Trata-se de uma insatisfação interna.
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Esse processo de compulsão se assemelha ao que ocorre com as drogas ilícitas?
O mecanismo do vício é o mesmo e, nesse sentido, a pessoa está substituindo a droga pela compulsão pelas redes sociais. Há um perfil de pessoas mais susceptíveis, que têm tendência a desenvolver de forma mais acentuada esse processo. São aquelas que têm uma fragilidade psíquica, dificuldade de relacionamento, timidez muito grande e um tipo de estrutura que tem muita facilidade para dependências.
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Achei bem interessante isso, nós que estamos em fóruns/redes muitas vezes detectamos esses sintomas em algumas pessoas, mesmo sem ter idéia de quem a pessoa é na vida real. Aquela necessidade de estar o tempo todo online, de expor a vida pessoal no fórum/rede social, mostrar que é feliz, que está solteiro, ou finalmente namorando.
Ficar radiante que recebeu sei lá quantas MPs, ou que foi quotado, que é um usuário conhecido, que tem mtos posts, etc.
Aí um fórum ou rede social já não é mais suficiente. Tem que ter facebook, twitter, Instagram, Snapchat, Tinder, Orkut, Whatsapp, etc.
Acho que é legal cada um fazer essa reflexão e ver se está usando a Internet de forma saudável, ou se está usando a Vida Virtual para projetar as frustrações que tem na vida real. Será que vc não está em um ambiente pq lá vc é popular, tem gente interessada em vc, pq sempre te faltou isso na vida real?
Será que sua vida virtual já não tomou uma importância desproporcional na sua vida?
Será que não é hora de você parar de fugir dos seus problemas na vida real?
