Marcos Ferreira, de 43 anos, leciona em 2 turnos em Santa Bárbara d´Oeste.
'Estou no vermelho', diz; categoria está em greve há quase dois meses em SP.

O professor da rede estadual de São Paulo, Marcos Paulo Ferreira, de 43 anos, leciona em Santa Bárbara d´Oeste (SP) e decidiu vender seu Fusca 74 para poder pagar dívidas e saldar as contas do próximo mês. Ele diz que não terá como arcar com as despesas de junho com o corte salarial dos professores proposto pelo governo estadual.
A categoria está em greve há quase dois meses e Ferreira pôs o veículo de estimação à venda por R$ 4 mil, valor aproximado ao que ele ganha mensalmente dando aulas de história em dois turnos na Escola Estadual Professor Eduardo Silva.
Marcos diz que o valor do salário de maio, referente à abril, veio pela metade devido aos descontos na folha de pagamento daqueles que aderiram à greve da categoria, iniciada no dia 13 de março. A previsão é de que em junho os profissionais que aderiram ao movimento fiquem sem nenhuma remuneração.
O Fusca 74 foi comprado por Ferreira em 2000, quando começou a carreira no magistério. Na época, lecionava no distrito de Frutal do Campo, área rural de Cândido Mota (SP), cidade no oeste do estado, próxima ao Paraná. "Passava por muitas estradas de terra e canaviais para chegar à escola, por isso optei por comprá-lo", lembrou.
A decisão de vender o carro foi árdua. "Ele faz parte de minha história como educador. Apesar de não ter preço que pague pelo veículo, resolvi pedir R$ 4 mil por ele. Já estou com minha conta no vermelho, no negativo no cartão e no cheque especial", relatou.
Formação
Ferreira tem duas graduções, em história e em pegadogia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). O docente também é mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Apesar da dupla formação, dos títulos e das especializações, o docente concursado diz que precisa trabalhar em dois turnos para poder garantir um rendimento compatível às despesas da casa. "Sou professor da rede estadual e adoro o que faço, mas se tivesse um salário melhor, poderia trabalhar com mais qualidade", afirmou.
A jornada de trabalho em sala de aula é de 24 horas semanais. "Como leciono nos períodos da manhã e da tarde, dobra para 48. Além das aulas, há as atividades pedagógicas. No total são 52 horas de trabalho por semana. Tenho 15 turmas sob minha responsabilidade", disse Ferreira.
Liminar cassada
A Juíza Celina Kiyomi Toyoshima, da 4ª Vara da Fazenda Pública, concedeu liminar, na última quinta-feira (7), que garantia o pagamento dos dias parados aos professores. A Procuradoria Geral do Estado, entretanto, recorreu da decisão e suspendeu a medida na sexta-feira (8).