Giovani Decker, cujo primeiro dia de trabalho foi na segunda-feira, quer o MMA cada
vez mais longe do preconceito: "O esporte tem muito mais coisas boas do que ruins"
O UFC está de cara nova. Anunciado como diretor-geral da organização no país, Giovani Decker começou oficialmente na segunda-feira sua história à frente da companhia. Em seu primeiro dia de trabalho, promoveu, em São Paulo, a encarada entre Thiago Pitbull e Carlos Condit, que fazem a luta principal do UFC Goiânia 2, dia 30 de maio.
Apesar de ainda estar se ambientando à nova realidade, Giovani Decker não se apoiou neste álibi para evitar entrevistas. Pelo contrário, fez questão de se colocar à disposição da imprensa.

O Combate.com conversou com o executivo gaúcho durante 15 minutos. Sem deixar nenhuma pergunta sem resposta, ele falou sobre o motivo que o fez aceitar o convite do Ultimate, da sua relação com as artes marciais, dos planos para o futuro - incluindo a possibilidade de um evento em um estádio de futebol -, elogiou Dana White e afirmou que o UFC tem potencial para “incomodar” o futebol.
- O UFC é quem tem mais condições de acabar, um pouquinho, com o monopólio, digamos assim, do futebol no Brasil. É quem tem mais condições de chegar perto. Claro que o futebol será sempre religião no país, mas o UFC tem uma história linda, os atletas têm histórias verídicas, maravilhosas, como a do José Aldo, por exemplo.
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COMBATE.COM: O que o motivou a deixar o cargo de presidente da Asics para assumir o UFC?
Fui galgando posições até chegar à presidência. Eu achei que meu ciclo tinha vencido. Não posso falar em números, pois a Asics é uma empresa de capital aberto, mas ajudei a fazer o startup da empresa no Brasil. Entreguei a empresa entre as quatro maiores do Brasil. Achei que precisava de uma nova história para me motivar de novo. Veio esse convite no momento em que me abri para o mercado e me apaixonei pela proposta, pela visão da empresa. É a segunda marca mais valiosa do mundo dos esportes hoje. Isso é fantástico. Eles têm um pouco mais de dez anos trabalhando a marca, então a oportunidade é infinita e aqui estou eu. Fui movido pelo desafio. Quero ajudar a equipe do UFC no Brasil, juntamente com a imprensa e os amantes do esporte, a fazer o MMA ainda mais popular no país.
Qual é a sua relação com o MMA?
Eu sou um maluco por esporte em geral. Eu era um grande apaixonado pelo MMA na minha época de moleque, vendo o Royce (Gracie), o Tank Abbot, os caras mais antigos. Fiquei um tempo sem acompanhar muito, via só as "superlutas". Voltei a ver um tempo atrás, principalmente quando o Brasil teve quatro campeões. Gosto de luta e vemos nela um amor que não vemos em outros esportes. Vou precisar de um tempo, pois ninguém é perfeito, mas vejo como natural a minha entrada e esse aprendizado de luta será muito rápido.
Em sua apresentação oficial no Rio de Janeiro, você disse que queria levar o UFC a um outro nível. O que seria isso?
O trabalho do UFC no Brasil é fantástico, maravilhoso, feito por uma equipe excelente, mas tem sempre oportunidades. Entrei de cabeça nessa história, no UFC, no MMA. Quero ajudar muito o esporte. Quando falo em outro nível, é o nível de experiência para o amante do esporte, com muito mais fãs, mais gente comprando pay per view, mais gente se interessando e indo aos eventos. O UFC é quem tem mais condições de acabar, um pouquinho, com o monopólio, digamos assim, do futebol no Brasil. É quem tem mais condições de chegar perto. Claro que o futebol será sempre religião no país, mas o UFC tem uma história linda, os atletas têm histórias verídicas, maravilhosas, como a do José Aldo, por exemplo. E tem esse amor todo, o fã dá as ordens de tudo. Já fui dezenas de vezes a jogos da NBA nos Estados Unidos. Todo mundo fala da organização e tal, mas muitos jogos são mornos. No UFC no Brasil, não. O cara vaia, tem música, há diferentes alas de luta, como o jiu-jítsu e a luta livre. Há uma paixão que é verdadeira, intensa e temos de potencializá-la ao máximo.
Com quais metas você trabalha a curto prazo?
É difícil colocar, estou começando realmente hoje. Quero sentar com a minha equipe, com a imprensa, inclusive. Um bom relacionamento com a imprensa significa se aproximar do fã. Quero ouvir o máximo que puder, absorver as demandas reprimidas. Tem coisas que estamos ouvindo, como um bom card de lutas estrangeiras. São coisas que estão rolando nos blogs, nos sites e, talvez, possamos fazer acontecer. Para um plano bem definido, preciso de tempo, sentar com a equipe. Queremos coisas diferentes, novas, que ainda não foram usadas nos UFCs no Brasil.
Existe a possibilidade de vermos mais lutas entre estrangeiros no Brasil?
Tudo são fases. Quase todo fim de semana tem luta, então as pessoas estão conhecendo mais os atletas, e o interesse com caras de fora é natural. A fórmula do brasileiro contra um cara de fora, que funciona mesmo, é boa, pois brasileiro gosta de torcer, mas não é só essa que funciona. Com o conhecimento cada vez maior que os fãs têm, podemos inovar, trazer outras fórmulas. Essa é uma das pequenas coisas que podemos fazer.
A Arena da Baixada, em Curitiba, testou o teto retrátil com sucesso, e a falta de estádios cobertos no Brasil sempre fez com o que o Ultimate evitasse realizar eventos nestes locais. É possível que o estádio receba uma edição do UFC este ano ou em 2016?
Todas as arenas que possam trazer uma boa experiência ao público estão no nosso radar. Obviamente a arena do Atlético-PR é uma delas, a do Palmeiras, também. Não é necessariamente pelo teto retrátil. Queremos um ambiente que proporcione ao fã a melhor experiência possível para assistir, ter contato com a luta e com os atletas. No momento em que a Arena da Baixada e a Arena do Palmeiras se mostrarem eficazes, estarão aptas a receber o evento. Aí será só uma questão de negociação.
Quais pedidos você tem escutado das pessoas que sabem da sua nova função?
Eu vi bastante essa coisa de luta entre estrangeiros, ouvi pedidos de disputas de cinturão no Brasil, lutas de brasileiros mais bem ranqueados. Uma ou outra demanda local, por exemplo, sobre evento em Manaus. Tem várias coisas... O legal é que quando falei para pessoas próximas que estava trocando a Asics pelo UFC, todas falaram: "Que maravilhoso, parabéns". Ninguém, absolutamente ninguém, falou: "Você está louco? O que está acontecendo contigo?" Todo mundo viu isso como um acréscimo, algo maior na minha carreira. Todo mundo já entendeu o tamanho que o UFC tem e pode ter no Brasil.
Como foi o primeiro contato com o Dana White?
O Dana é um cara maravilhoso, um ser humano fantástico. Tive uma impressão maravilhosa quando estive com ele em Las Vegas, cerca de duas semanas antes de eu ser anunciado no Rio. No Rio de Janeiro, tive mais contato com ele. É um cara que tem um senso de humor apuradíssimo, é um cara bacana, apaixonado pelo UFC, pelas lutas e pelos atletas. Ele incorpora muito isso. Será muito inspiradora essa paixão que ele tem, que se confunde com o esporte. Vai ser muito legal, bacana. Ele merece todo o sucesso que tem e espero ter um pouquinho desse sucesso para ajudar o UFC, o MMA brasileiro, a ir adiante.
Qual é o seu maior sonho à frente do UFC?
Quero ser reconhecido. Tive bastante sucesso na minha ex-empresa, pois eu a peguei em um patamar e a entreguei com a barra lá em cima. Eu sou visto como o principal responsável, mas obviamente ninguém faz nada sozinho. Acredito muito em trabalho em equipe, não faço nada sozinho. Quero que o UFC chegue a um novo patamar no Brasil. Se daqui a dez anos eu for reconhecido como um dos principais agentes dessa mudança, deixando uma marca positiva no UFC, ficarei feliz com esse legado. Isso é o mais recompensador, é o que fica na vida da gente.
Como torcedor, que lutadores gosta de assistir em ação?
Gosto muito do Cigano e, obviamente, do Vitor (Belfort). Sou fã dele desde aquele primeiro título que ele conquistou lá atrás, com 18 ou 19 anos. Eu tinha um pouco mais idade do que ele, uns 21. Obviamente gosto do Anderson (Silva), do (Renan) Barão... De estrangeiro, eu gosto do Nick Diaz, do (Anthony) Johnson. Gosto muito da velha guarda, do Tank Abbott, do Royce, do Rickson Gracie... Para mim, são verdadeiras lendas. Sou muito fã deles. Na época, olhávamos e não tinha nada. Os caras lutavam uma hora e meia. Hoje vemos a organização do esporte, no que se transformou. Sou um grande fã da galera da velha geração.
O MMA ainda sofre preconceito, embora tenha diminuído bastante. Fazer com que isso diminua é uma de suas missões?
Há vários aspectos que podemos explorar para mostrar ao grande público que o esporte tem muito mais coisas boas do que ruins. A inclusão social, por exemplo, em um país como o Brasil, é uma delas.
Temos que explicar cada vez mais ao grande público e à imprensa que não é especializada, que no UFC nunca morreu ninguém em mais de dez anos. No futebol, no futebol americano, morrem caras todos os dias. Toda essa lenda que tem (no MMA)... Temos que vir com dados reais. No UFC, nunca morreu ninguém. Dentro do octógono é o ganha-pão, eles vão para ganhar, mas fora de lá os lutadores treinam para caramba. Há uma questão aeróbica, física, impressionante. É muito raro você ver lutadores gordos, com gordura. Há vários aspectos que podemos explorar para mostrar ao grande público que o esporte tem muito mais coisas boas do que ruins. A inclusão social, por exemplo, em um país como o Brasil, é uma delas. Cabe a nós educar o grande público, pois o nosso esporte não é violento, não é mesmo.
Deixe um recado aos fãs de MMA, que estarão acompanhando o seu trabalho a partir de agora.
O recado é que errar é humano, ninguém acerta tudo, mas não vai faltar vontade de acertar. É impossível adequarmos todas as demandas dos fãs, obviamente, mas não faltará brilho nos olhos. É o que levo na minha vida, foi o que sempre busquei fazer nos lugares que passei. Não sou lutador, mas pode ter certeza que vou defender esse esporte com muita luta.
Fonte: http://sportv.globo.com/site/combate/no ... anhia.html" onclick="window.open(this.href);return false;









