Pelo menos 30 atrizes relatam o caso, registrado no Cuca da Barra. Segundo delegado que investiga o fato, o acusado responde a cinco acusações de estelionato

O camarim do teatro do Cuca Barra foi o local para dos testes (FOTO: Rubêns Venâncio)
Um filme grandioso, um salário sedutor e a certeza de sucesso. Promessas e mais promessas que encantavam os olhos de quem trabalha e sobrevive da arte, em Fortaleza. Para ter acesso à glória, bastava um único teste que envolvia cenas de sexo e de estupro. Foi assim que pelo menos 30 atrizes cearenses relataram ter sido enganadas por um suposto diretor de cinema, chamado Raphael Fyah.
Os testes foram realizados dentro do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) da Barra do Ceará. Revoltadas, as atrizes se mobilizaram e foram à polícia para denunciá-lo por assédio sexual.
De acordo com a sinopse, o longa Barra do Ceará teria cenas mais violentas do que filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, e com teor sexual que se aproximaria dos filmes Ninfomaníaca e Azul é a Cor Mais Quente. Supostamente escrito, seria produzido, dirigido e atuado também por Raphael, o filme pretende contar a história de um traficante de Fortaleza, chamado Fyah, e é vendido em seus testes como um “divisor de águas do cinema brasileiro”.
Todas as atrizes contam que foram abordadas por Raphael da mesma forma. Por mensagens no Facebook, o rapaz ofertava o filme e um salário de R$ 3.000 – quantia que variava de acordo com as atrizes escolhidas. “R$ 3.000 para quem vive de arte aqui é muita coisa”, indica Michelle Gandolphi, atriz do grupo de teatro Vagabundos.

Michelle Gandolphi é estudante de Teatro da UFC e atriz no grupo Vagabundos (FOTO: Arquivo pessoal)
O teste
Para as cenas de teste, duas situações: sexo e estupro. Na primeira, uma personagem chamada Gabi fazia sexo com o traficante Fyah, em troca de drogas. Na segunda, a personagem Raquel seria estuprada pelo mesmo traficante, que praticava o ato como forma de pagamento por dívidas de drogas. As atrizes deveriam tirar a roupa e simular uma relação sexual com o suposto diretor.
Segundo Michelle, o rapaz dizia que os testes seriam feitos inicialmente no Classic Hotel, na Praia de Iracema, mas depois Raphael utilizou um camarim cedido pela coordenação do Cuca Barra. O novo local deu mais confiança às atrizes, que estavam com medo de realizar o teste. Na sala, nenhuma câmera e nenhum assistente. Apenas Raphael, que logo tirava a roupa e explicava para a possível protagonista que tudo seria estritamente profissional.
Uma aluna do curso de Teatro da Universidade Federal do Ceará (UFC) que prefere não se identificar fez o teste. Ela explica que, no começo, achou estranho a forma como o teste estava sendo levado, mas que por falta de experiência, fez da mesma forma. “Eu, pessoalmente, não estranhei a cena, tanto pelo motivo de não ter experiência com testes para cinema, como por achar que fosse algo profissional, que haveria uma equipe envolvida. No dia do teste, já na sala que havia reservado no Cuca Barra, ele me informou que quem faria a cena comigo seria ele mesmo, que ele também era o ator do filme e o responsável por avaliar as atrizes, mas ele não sabia as falas decoradas”, explica.
Induzida por Raphael, a estudante diz que teve que tirar blusa e calcinha e ficar apenas de saia, enquanto ele, também sem roupa, simulava o ato sexual. “Fiz a cena como foi pedido, mesmo estando extremamente constrangida. Ao término da cena ficamos conversando e ele sempre agindo de forma muito natural, mas eu muito incomodada. Esse incômodo não passou e até agora ele continua, principalmente depois de descobrir que era tudo mentira”.







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