Professor Ludovico escreveu: ↑29 Mar 2020 19:39
Sobre o filme O Poço,
-O filme é uma crítica social: a luta de classes, os privilégios, o jogo de poder, o consumismo.
-A atuação dos personagens revela a natureza humana: em algumas nuances (ganância, agressividade, empatia, instinto de sobrevivência, bondade, carência, intolerância) e como a instrução (livros) pode nos tornar mais civilizados, disciplinados, esclarecidos, conscientes, críticos.
-O projeto parece existir para avaliar, testar - levar o ser humano ao seu limite e estudá-lo.
-São 333 níveis, porque em cada andar era alocado 2 pessoas - total de 666 pessoas - uma ironia - quem projetou o experimento sabia que os participantes passariam por situações que os forçariam a tomar decisões extremas e que aquele lugar era inóspito.
-As pessoas são colocadas lá, mas elas escolhem estar lá, aceitam participar do confinamento. E algumas delas tinham cometido algum crime, ou estavam doentes, ou tinham vícios etc - mas desconhecem a verdadeira natureza do projeto.
-O personagem principal, por exemplo, parecia ter procurado o projeto para ficar um tempo isolado, para pensar, mudar, parar de fumar. Porque, geralmente, nenhuma mudança é espontânea. Para mudar é necessário empregar esforço pessoal, disciplina.
-Este mesmo protagonista argumentava que havia comida para todos se nenhum cometesse excessos, ou se racionalizassem os alimentos ou mesmo que alguns indivíduos pudessem fazer jejum por um dia apenas e que esse processo pudesse se repetir fazendo revezamento entre as pessoas.
-É bom lembrar também que, na entrevista, cada um era questionado sobre o seu prato favorito, portanto havia alimento para todos.
-Apenas maiores de 16 anos poderia participar da experiência.
-A criança estava lá porque cada participante poderia escolher levar algo, a mãe escolheu levar a filha.
-A criança manteve uma aparência saudável porque a mãe lutava diariamente para alimentá-la.
-A mãe manteve a criança no último andar de baixo pois era o local mais seguro, já que ninguém escolheria descer até lá, já que isso significava um rebaixamento e menos privilégios.
-A criança ficava escondida embaixo do banco para que não pudesse ser vista por ninguém dos níveis acima. Já que o ambiente era inóspito.
-A criança é a mensagem. A mensagem é que mesmo lá embaixo (no fundo do poço) alguma coisa pode permanecer íntegra, intocada, preservada. Por isso se reveste da esperança.
A natureza humana não é apenas ruim, podemos ser também muito bons. Todos nós já nascemos com uma natureza específica que pode ser melhorada ou piorada com o ambiente. E a cultura, a informação (representada pela escolha do personagem mais ponderado e crítico - aquele que levou um livro) pode nos tornar mais civilizados e isso pode ser demonstrado através do comportamento de alguns personagens. As armas, que a maioria levou, podem representar a agressividade, a intolerância humana em aceitar o novo, o diferente, a aniquilação do outro por instinto de sobrevivência, para defesa, por MEDO, ou por pura maldade e intolerância.
Nos instantes finais do filme, um sábio convence a dupla de personagens (que parecem querer fazer uma espécie de revolução) a não começar a abordagem da mudança através da violência, mas sim do convencimento. No entanto, não se consegue convencer os demais somente com argumentos, às vezes utilizar a força é necessário. Por isso existe a diplomacia e a guerra.
Os privilegiados não queriam perder o poder, nem as benesses, outros eram intolerantes e agressivos demais para aceitar uma negociação. E não havia tempo para mais tratativas. Aquele lugar estava emulando a vida real em circunstâncias extremas para revelar a natureza humana. Porque não se conhece as pessoas quando não as falta nada, mas sim quando lhe é dado poder absoluto ou quando elas são colocadas em situações extremas.