Concordo com você em quase tudo, cara. Somente o final do seu último parágrafo que é bastante questionável, já que ficaria difícil de provar uma situação dessas.brunodsr escreveu: @Derfel, uma dissertação sempre parte de uma pergunta de pesquisa. O estudo serve justamente para ajudar a respondê-la, mesmo que parcialmente. Essa pergunta deve ser algo do interesse da academia e(ou) sociedade. Deve ajudar a resolver um problema real (mesmo que apenas explicando ou detalhando um fenômeno - como seria a ideia desse trabalho). Normalmente a contribuição do autor é o próprio estudo e não o resultado dele. Acredito que até aqui estamos alinhados, né?
Tomando o exemplo do colega @PescadorParrudo, suponhamos que um autor quisesse explorar como são as relações homo-afetivas de determinada tribo (para não sair do tema). O primeiro passo seria a justificativa do estudo. Por que ele é relevante? A quem ele interessa? O autor pensa em contribuir de que forma para a academia/sociedade? Quais são as hipóteses do autor? Estão fundamentadas em quê?
Considerando que todas essas perguntas foram respondidas com o mínimo de coerência, o segundo passo da pesquisa seria OBRIGATORIAMENTE buscar nos acervos disponíveis trabalhos que falem sobre o tema (mesmo que em outras tribos/comunidades). Para tal, ele teria que construir um protocolo de pesquisa (e nesse caso obrigatoriamente validar o protocolo) ou seguir/derivar de um já existente (nesse caso é só reproduzir mesmo), para que a sua pesquisa literária pudesse ser repetida posteriormente, quantas vezes for necessário.
Caso a questão não seja respondida na revisão sistemática ou os resultados não sejam satisfatórios (considerando as hipóteses), ele poderia ir a campo. Porém, novamente partindo de um protocolo (próprio ou existente), que descreveria quando, como e porque cada passo seria executado, inclusive detalhando como e porque os dados foram coletados e processados da forma escolhida (análise não paramétrica, por exemplo). Sabe por quê? Porque se fizer diferente disso, a sua pesquisa pode ser contaminada pelas suas impressões pessoais. O famoso "bias".
Mas vamos considerar que ele fez tudo isso certinho. Ainda teria a escrita do relatório, onde todos os passos necessários para reproduzir a pesquisa estariam descritos, detalhadamente. Desde a revisão/mapeamento sistemático até a execução de cada passo da etnografia. Com isso em mãos, o autor faria suas impressões e tentaria responder às perguntas de pesquisa.
Percebe que o trabalho do chupador de bilola não tem nada disso? Percebe que uma produção científica é bem mais rica e complexa do que simplesmente relatar suas aventuras sexuais? Eu acredito que esse cara só passou por conta do medo do rótulo de homofóbicos pelos integrantes da banca (dado o conteúdo) ou por superproteção (no caso inverso) pelo mesmo motivo. Mas isso é coisa pra outra discussão.
Meu ponto desde o início não foi discutir a qualidade técnica do trabalho. Tanto que reforcei diversas vezes aqui que as Ciências Sociais não fazem parte do meu "mundo", então, pouco teria acrescentar com relação a isso.
A minha critica era que o quê vinha sendo criticado não era a qualidade do artigo. A indignação era porque o estudo trata de um relato sobre chupação de manjuba em banheiro público onde o pesquisador participa, finaciado pelo Estado.
Isso por si só não invalida o trabalho como ciência pelos motivos que já expliquei diversas vezes nesse tópico. A parada é que a gente fica correndo em círculos.
Sei que esse é um assunto espinhoso, se o trabalho tratasse de uma tribo dos confins da Amazônia provavelmente não teria nem um décimo da repercussão. Como ele trata de viadagem, putaria e em local público, as pessoas reagem sem ao menos tentar entender como a coisa toda funciona. Mais ainda, se recusam a entender porque agride moralmente a elas.
Dessa forma, ficar aqui explicando centenas de vezes a mesma coisa acaba sendo infrutífero.





