O objetor de consciência que se converteu em herói de guerra
Desmond Doss nasceu em 7 de fevereiro de 1919 em Lynchburg, no estado de Virginia (EUA). Seus pais, Tom e Bertha Doss, criaram-no sob a doutrina e as crenças da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Desde muito cedo, Desmond foi muito influenciado pela Bíblia, particularmente pelo mandamento de não matar. Em abril de 1942, Desmond foi recrutado pelo Exército dos Estados Unidos, o problema era que ele seguia se negando a portar uma arma; de modo que foi alistado como objetor de consciência (ainda que gostasse de dizer que era um "cooperador de consciência" e que desta forma poderia "servir a Deus e ao país").
Inscrito ao Corpo Médico da 77ª Divisão de Infantaria, o estrito seguimento de seus ensinamentos religiosos, inclusive o respeito pelo sábado (shabat) como dia de repouso, lhe acarretaram contínuos deboches de seus colegas e atos de indisciplina ante seus comandos.
Em maio de 1945, no assalto anfíbio dos aliados à ilha de Ryukyu de Okinawa, um batalhão de fuzileiros navais foi enviado par tomar uma posição japonesa sobre um despenhadeiro de 120 metros. Depois de escalar aquela parede, foram recebidos por um intenso fogo inimigo. Desmond viu como seus colegas caíam como moscas e em vez de refugiar-se -como fizeram outros soldados- conseguiu retirar daquela ratoeira mais de 75 fuzileiros feridos, arrastando-os ou carregando um a um, para levá-los até a borda da escarpa desde onde seriam baixados com cordas.
O objetor de consciência que se converteu em herói de guerra
Durante vários dias continuou atendendo os feridos menosprezando o perigo que rodeava, até que em 21 de maio, próximo a Shuri, foi atingido nas pernas pela metralha de uma granada e quando estava a ponto de ser retirado em uma maca de campanha, Desmond viu outro soldado que estava pior do que ele e cedeu o lugar para que resgatassem seu colega. Foi então que recebeu um disparo em um braço que fraturou um osso. Sem poder ficar de pé, ferido em um braço e sem que ninguém pudesse ajudá-lo, quebrou sua promessa: pegou um fuzil e usou como tala no braço para poder se arrastar até o hospital de campanha. Até para os solados que antes se debochavam dele, Desmond se converteu em um símbolo de coragem e determinação.
Ele era um socorrista no 1º Batalhão quando atacaram uma escarpa vertical de 120 m de altura. Quando nossas tropas chegaram ao topo, foram alvejados por fogo pesado e concentrado de artilharia, morteiros e metralhadoras. 75 homens foram alvejados, os outros recuaram. O Soldado Doss se recusou a se abrigar e permaneceu na área sob fogo com os feridos. Ele carregou todos os 75, descendo um a um pela escarpa com uma maca presa a uma corda.
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No dia 2 de maio ele se expôs a fogo pesado de rifle e morteiro para resgatar um homem ferido a 200 metros do inimigo. Dois dias depois ele cuidou de 4 homens que sofreram lacerações atacando uma caverna fortemente defendida. Ele avançou por uma chuva de granadas até 8 metros das forças inimigas na boca da caverna, onde tratou das feridas dos soldados e fez 4 viagens para evacuá-los em segurança.
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No dia 5 de maio, ele sem hesitar atravessou fogo de artilharia e armas de mão para cuidar de um oficial de artilharia ferido. Ele aplicou bandagens, moveu o paciente para uma posição abrigada dos tiros inimigos e aplicou plasma enquanto fogo de artilharia caía em volta. No mesmo dia quando um americano estava severamente ferido por tiros vindos de uma caverna, o soldado Doss rastejou até onde ele havia sido atingido, a 25 metros da posição inimiga. Cuidou do soldado e o carregou por 100 metros para uma posição segura, o tempo todo exposto ao fogo inimigo.
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No dia 21 de maio, eu um ataque noturno a uma posição elevada próxima a Shuri, ele permaneceu em território exposto enquanto o resto de sua Companhia correu para se abrigar; ignorando o risco de ser alvejado pelo inimigo ou confundido com um batedor por seus próprios colegas, ele percorreu o campo de batalha cuidando dos feridos, até que ele mesmo foi seriamente ferido nas pernas por uma granada. Em vez de chamar por socorro médico ele cuidou dos próprios ferimentos e esperou por 5 horas até que dois soldados com uma maca aparecessem.
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Os três foram atacados por um tanque inimigo, ao mesmo tempo em que o soldado Doss percebeu outro ferido, mais grave, na proximidade. Ele ordenou que os maqueiros cuidassem primeiro do outro soldado. Enquanto eles não voltavam, Doss foi atingido por um sniper, provocando uma fratura composta em seu braço.
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O soldado Doss pegou um rifle que estava no chão, fez uma tala com a coronha para estabilizar seu braço e rastejou 300 metros até o território amigo.
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Por sua inigualável bravura e inquestionável determinação em face de condições desesperadamente perigosas, Doss salvou a vida de muitos soldados. Seu nome se tornou um símbolo por toda a 77ª Divisão de Infantaria de Valentia muito acima e além do Dever.”
Desmond, como todo socorrista foi visto como covarde até a primeira baixa. Os socorristas, em geral escolhidos por serem parte de grupos religiosos que se recusavam a combater estavam entre os mais corajosos, abnegados e ousados soldados de qualquer batalhão, e quando um novato falava mal do socorrista de um pelotão veterano, quem levava uma boa surra era o novato.
O texto é a citação oficial de sua Medalha de Honra do Congresso, a maior condecoração dos Estados Unidos, recebida das mãos do presidente Truman:
Em outubro de 1945, Desmond Doss recebeu a Medalha de Honra das mãos do presidente Harry S. Truman durante uma cerimônia na Casa Branca. Ele retornou do Pacífico doente com tuberculose e, ainda que tenha sido tratado com antibióticos, perdeu um pulmão. Em 1970, devido a uma overdose acidental de antibióticos, ficou surdo. Viveu o resto de sua vida como um homem humilde e morreu com 87 anos, em 23 de março de 2006. Foi o protagonista do livro "O herói mais improvável" de 1967 e do documentário "O objetor de consciência" de 2004.

fonte: http://www.mdig.com.br/?itemid=27355



