
Sherlock Holmes é um personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e escritor Sir Arthur Conan Doyle. Holmes é um investigador do final do século XIX e início do século XX que aparece pela primeira vez no romance Um estudo em Vermelho, editado e publicado originalmente pela revista Beeton's Christmas Annual, em Novembro de 1887.
Sherlock Holmes ainda hoje é um dos mais atraentes personagens dos romances policiais. Carismático e astuto, fez do método científico e da lógica dedutiva suas melhores armas. Sua habilidade para desvendar crimes aparentemente insolúveis, até mesmo para Scotland Yard, transformou seu nome em sinônimo de detetive. Holmes costuma ser uma pessoa arrogante, que está correta sobre inúmeros assuntos e com palpites certeiros. A primeira amostra de sua exatidão é descrita em "Um Estudo em Vermelho". Quando Watson e Holmes se conhecem, em alguns poucos segundos Holmes já sabia que ele estivera no Afeganistão.

Além do aspecto erudito, não demonstra muitos traços de sentimentalismo, preferindo o lado racional de ser. Apesar disso, em alguns contos o Dr. Watson diz que a "máscara gelada" de Holmes cai às vezes, dando mais humanidade a Sherlock Holmes. Orgulhoso, parece dominar vários assuntos sem o autor descrever seus estudos. Holmes apresenta alguns hábitos peculiares como a prática de artes marciais como boxe, esgrima de armas brancas e de bengala. Watson relata também a aparência física de Holmes. Muito alto, possui mais de um metro e oitenta, extremamente magro, pálido, nariz fino. Pratica exercícios físicos apenas se exigidos em sua profissão de detetive. Dependendo do enigma do caso em que estiver envolvido, passa horas fumando cachimbo, que diz esclarecer a mente. Além do uso habitual da cocaína em protesto a monotonia, e diz-se que é um exímio violinista.
Holmes tem como característica não gostar que o interrompam em suas reflexões. Não se vê Holmes estudando sobre tudo, mas domina incrivelmente uma vasta quantidade de assuntos do conhecimento humano, tais como História, Química, Geologia, Línguas, Anatomia e a Literatura Sensacionalista, etc.
Segundo Conan Doyle, criador do personagem, Sherlock Holmes viveu em Londres, no apartamento 221B Baker Street, entre os anos 1881 e 1903 , durante o último período da época Vitoriana, onde passou muitos anos na companhia do seu amigo e colega, Dr. Watson. Hoje esse endereço é um museu dedicado a Sherlock Holmes.
Sherlock Holmes descreve-se como um "detetive consultor" (um dos exemplos é o início do livro "O Signo dos Quatro"), o que significa que as pessoas vêm-lhe pedir conselhos sobre os seus problemas, ao invés de se dirigir a elas. Doyle conta-nos que Holmes é capaz de resolver os problemas a ele propostos sem sair do seu apartamento, apesar de este não ser o caso em diversas de suas mais interessantes histórias, que requerem a sua presença in situ. A sua especialidade é resolver enigmas singulares, que deixam a polícia desnorteada, usando a sua extrema faculdade de observação e dedução.
Holmes demonstra, ao longo das suas histórias, uma capacidade de dedução e um senso de observação impressionantes, ajudados por uma cultura geral extensa e variada (ele é capaz de identificar a marca de um tabaco somente pelo seu cheiro e pela cor de suas cinzas). Quando envolvido com algum problema, pode passar noites sem dormir ou comer, o que inquieta o seu amigo Watson. Mestre na arte do disfarce, maneja com habilidade a espada e daria, segundo Watson, um bom pugilista.
Livros publicados:
Romances
Um estudo em vermelho - (A Study in Scarlet) - romance publicado em 1887.
O signo dos quatro - (The Sign of the Four) - romance publicado em 1890.
O Cão dos Baskervilles - (The Hound of the Baskervilles) - romance publicado em 1901.
O vale do terror - (The Valley of Fear) - romance publicado em 1915.
Contos
As Aventuras de Sherlock Holmes (The Adventures of Sherlock Holmes): série de 12 contos publicada em 1892.
Memórias de Sherlock Holmes (The Memoirs of Sherlock Holmes): série de 11 contos publicada em 1894.
O Retorno de Sherlock Holmes (The Return of Sherlock Holmes): série de 13 contos publicada em 1905.
O último adeus de Sherlock Holmes (His Last Bow): série de 8 contos publicada em 1917.
Os Arquivos de Sherlock Holmes (The Case-Book of Sherlock Holmes): série de 12 contos publicada em 1927.
Trecho do livro O Signo dos Quatro:
"Ouvi dizer que é difícil para um homem ter qualquer objeto de uso diário sem nele deixar a marca de sua individualidade, de tal modo que um observador treinado poderia lê-la. Ora, tenho aqui um relógio que veio parar em minhas mãos recentemente. Faria a gentileza de me dar uma opinião sobre o caráter ou os hábitos de seu ex-proprietário?"
Entreguei-lhe o relógio, divertindo-me um pouco em meu íntimo, pois aquele era, a meu ver, um teste impossível, e eu pretendia que servisse de lição contra o tom um tanto dogmático que ele assumia ocasionalmente. Holmes segurou o relógio, olhou atentamente o mostrador, abriu a tampa traseira e examinou o mecanismo, primeiro a olho nu e depois com uma poderosa lente convexa. Mal consegui me impedir de sorrir diante de sua fisionomia desanimada quando ele finalmente fechou a tampa com um estalo e me devolveu o relógio.
"Não há quase nenhum dado", observou. "O relógio foi limpo recentemente, o que me rouba os fatos mais sugestivos."
"Você está certo", respondi. "Foi limpo antes de ser enviado para mim."
Em meu coração, acusei meu companheiro de alegar a desculpa mais esfarrapada e impotente para encobrir seu fracasso. Que dados poderia ele esperar de um relógio que não tivesse sido limpo?
"Embora insatisfatória, minha investigação não foi de todo estéril", observou ele, fitando o teto com olhos sonhadores, embaçados. "Corrija-me se eu estiver errado, mas eu diria que o relógio pertenceu ao seu irmão mais velho, que o herdou de seu pai."
"Isso você deduziu, sem dúvida, das iniciais H.W. nas costas?"
"Exatamente. O W. sugere seu próprio nome. O relógio data de quase cinquenta anos atrás, e as iniciais são tão antigas quanto ele: portanto foi fabricado para a geração passada. Joias geralmente são legadas para o filho mais velho, e era muito provável que ele tivesse o mesmo nome que o pai. Seu pai, se bem me recordo, faleceu há muitos anos. Ele estava, portanto nas mãos de seu irmão mais velho."
"Até agora, certo", disse eu. "Mais alguma coisa?"
"Ele era um homem de hábitos desmazelados... muito desmazelados e descuidado. Foi deixado com boas perspectivas na vida, mas jogou fora suas oportunidades, viveu algum tempo na pobreza com breves e ocasionais intervalos de prosperidade, e finalmente, entregando-se à bebida, morreu. Não consigo deduzir mais nada."
Saltei da cadeira e coxeei impacientemente pela sala, com considerável amargura no coração.
"Isso é indigno de você, Holmes", disse. "Eu não teria acredito que desceria a isso. Fez indagações sobre a história de meu pobre irmão e agora finge deduzir esse conhecimento de uma maneira fantasiosa. Não pode esperar que eu acredite que decifrou tudo isso nesse relógio velho! Isso é cruel e, para falar francamente, beira o charlatanismo."
"Meu caro doutor", disse ele afavelmente, "peço que aceite minhas desculpas. Vendo o assunto como um problema abstrato, esqueci-me do quanto poderia ser pessoal e penoso para você. Eu lhe asseguro, no entanto, que nunca soube sequer que teve um irmão até que me entregou o relógio."
"Então por força de que prodígios se inteirou desses fatos? Eles são absolutamente corretos em todos os detalhes."
"Ah, foi sorte. Eu poderia apenas dizer que foi o saldo das probabilidades. Não esperava de maneira alguma ser tão preciso."
"Mas não foi pura adivinhação?"
"Não, não; eu nunca adivinho. É um hábito indecoroso - destrutivo das faculdades lógicas. O que lhe parece estranho só o é porque você não acompanha meu encadeamento de ideias ou observa os pequenos fatos de que grandes inferências podem depender. Por exemplo, comecei dizendo que seu irmão era descuidado. Observando a parte de baixo da caixa do relógio, note que está não só amassada em dois lugares, como toda arranhada e marcada em decorrência do hábito de guardar outros objetos duros, como moedas ou chaves, no mesmo bolso. Certamente não é uma grande façanha supor que um homem que trata um relógio de cinquenta guinéus com tanto desdém deve ser descuidado. Não é tampouco uma inferência muito ousada supor que um homem que herda um artigo de tal valor está muito bem-aquinhoado em todos os demais aspectos."
Assenti com a cabeça, para mostrar que acompanhava seu raciocínio.
"Os penhoristas na Inglaterra têm o costume, quando se apoderam de um relógio, de riscar os números da cautela com um alfinete no interior da caixa. É mais conveniente que uma etiqueta, pois não há perigo de o número se perder ou ser trocado. Há nada menos que quatro desses números visíveis à minha lente dentro da caixa. Inferência: seu irmão estava com frequência na penúria. Inferência secundária: tinha fases ocasionais de prosperidade, ou não teria podido resgatar o penhor. Por fim, peço-lhe que olhe a placa interna, que contém o orifício para a chave. Veja os milhares de arranhões espalhados em torno dele, marcas deixadas pela chave ao resvalar. Como a chave de um homem sóbrio teria podido produzir esses sulcos? Mas você nunca verá o relógio de um bêbado sem eles. Ele lhe dá corda à noite, e deixa esses sinais de sua mão trêmula. Onde está o mistério em tudo isto?"
"É claro como o dia", respondi. "Lamento a injustiça que lhe fiz. Devia ter tido mais fé em suas maravilhosas faculdades. [...]