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Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 08:45
por Diego Garfield
O acidente

A sensibilidade, o espírito solidário, o carinho pelas plantas e os animais, a intensa religiosidade – características que marcarão a personalidade do futuro ídolo Roberto Carlos – já estavam presentes no menino Zunga, especialmente após um grave acidente que o vitimou aos seis anos de idade.

Imagem

Roberto Carlos criança
“Nos dias que permaneci no hospital criei minha estrutura, inventei orações que repito até hoje”, afirma Roberto Carlos.
O fato aconteceu numa manhã de domingo, 29 de junho de 1947, dia de São Pedro. A brisa deslizava do alto das serras. Naquele dia, Cachoeiro amanheceu sorrindo e em festa para saudar o seu santo padroeiro que, segundo a Igreja Católica, foi morto e crucificado nessa data em Roma, durante o reinado do imperador Nero, no ano 65 d.C. Era feriado na cidade, dia de desfiles, músicas, bandeiras, discursos, ruas cheias de gente e muita alegria. As duas bandas da cidade, a Lira de Ouro e a Banda 26 de Julho, faziam retreta na praça, tocando dobrados. E muitos meninos já brincavam em volta do coreto ouvindo os músicos tocar.
Pois naquela manhã os dois desceram mais uma vez juntos em direção ao local dos desfiles. Ao chegarem num largo, logo abaixo da rua em que moravam, já encontraram todos em plena euforia. Desfiles escolares, balizas e muitos balões coloriam o céu do pequeno Cachoeiro, ao mesmo tempo em que locomotivas se movimentavam para lá e para cá. Construída na época dos barões do café, no século XIX, quando a cidade era um paradouro de trem de carga, a Estrada de Ferro Leopoldina Railways atravessava Cachoeiro de ponta a ponta.

Por volta de nove e meia da manhã, Zunga e Fifinha pararam numa beirada entre a rua e a linha férrea para ver o desfile de um grupo escolar. Enquanto isso, atrás deles, uma velha locomotiva a vapor, conduzida pelo maquinista Walter Sabino, começou a fazer uma manobra relativamente lenta para pegar o outro trilho e seguir viagem. Uma das professoras que acompanhava os alunos no desfile temeu pela segurança daquelas duas crianças próximas do trem em movimento e gritou para elas saírem dali. Mas, ao mesmo tempo em que gritou, a professora avançou e puxou pelo braço a menina, que caiu sobre a calçada. Roberto Carlos se assustou com aquele gesto brusco de alguém que ele não conhecia, recuou, tropeçou e caiu na linha férrea segundos antes de a locomotiva passar. A professora ainda gritou desesperadamente para o maquinista parar o trem, mas não houve tempo. A locomotiva avançou por cima do garoto que ficou preso embaixo do vagão, tendo sua perninha direita imprensada sob as pesadas rodas de metal. E assim, na tentativa de evitar a tragédia com duas crianças, aquela professora acabou provocando o acidente com uma delas.

Diante da gritaria e do corre-corre, o maquinista Walter Sabino freou o trem, evitando conseqüências ainda mais graves para o menino, que, apesar da pouca idade, teve sangue-frio bastante para segurar uma alça do limpa-trilhos que lhe salvou a vida. Uma pequena multidão logo se aglomerou em volta do local e, enquanto uns foram buscar um macaco para levantar a locomotiva, outros entravam debaixo do vagão para suspender o tirante do freio que se apoiava sobre o peito da criança. Com muita dificuldade, ela foi retirada de debaixo da pesada máquina carregada de minério de ferro. “Eu estava ali deitado, me esvaindo em sangue”, recordaria Roberto Carlos anos depois numa entrevista. Mas naquele momento alguém atravessou apressado a multidão barulhenta e tomou as providências necessárias. “Será uma loucura esperarmos a ambulância”, gritou Renato Spíndola e Castro, um rapaz moreno e forte, que trabalhava no Banco de Crédito Rural.
Providencialmente, Renato tirou seu paletó de linho branco e com ele deu um garrote na perna ferida do garoto, estancando a hemorragia. “Até hoje me lembro do sangue empapando aquele paletó. E só então percebi a extensão do meu desastre”, afirma Roberto, que desmaiou instantes após ser socorrido. Esse momento trágico de sua vida ele iria registrar anos depois no verso de sua canção O divã, quando diz: “Relembro bem a festa, o apito/ e na multidão um grito/ o sangue no linho branco…”, numa referência à cor do paletó que Renato Spíndola usava no momento em que o socorreu.
Naquela época em Cachoeiro poucas pessoas possuíam automóvel e Renato Spíndola era uma delas. Ele pegou Roberto Carlos nos braços, colocou-o no banco de seu velho Ford e partiu a toda velocidade rumo ao hospital da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro, o único hospital daquela região. “Foi uma longa viagem. Traumas , uma de minhas composições, conta bem isso”, diz Roberto, citando outra canção confessional, lançada por ele em 1971, que em um dos versos fala do “delírio da febre que ardia/ no meu pequeno corpo que sofria/ sem nada entender…”.
No meio daquele corre-corre, com várias crianças espalhadas pelas ruas, pais e mães se desesperavam. Chamavam por seus filhos. Perguntavam quem era a criança atingida. Qual o nome dela A confirmação não demorou. É o Zunga, um menino que mora na rua da Biquinha. O acidente mudou o roteiro daquele dia em Cachoeiro. Para muita gente a festa perdeu a graça. O feriado acabou. Muitas crianças voltaram para suas casas. “Lembro que eu estava desfilando toda prosa de luvas e de uniforme quando houve aquele alvoroço e o desfile dispensou. Todo mundo correu pra ver. É uma coisa de que jamais me esqueci. Houve uma dispersão geral”, afirma a pianista Elaine Manhães, que na época tinha quinze anos e desfilava pelo Liceu Muniz Freire.

………….

Ao chegar ao hospital Zunga foi imediatamente atendido pelo médico Romildo Coelho, de 36 anos , que estava de plantão naquele domingo. Segundo ele, ao ver o menino constatou que a parte de baixo da perna acidentada estava pendurada apenas pela pele, mas o garoto não chorava muito, porque não estaria sentindo dor. “Quando o trem esmagou a perna, arrancou todos os nervos e tirou a sensibilidade”, explicou o médico. Ele recorda que o menino parecia ainda não ter a noção exata da gravidade do acidente. “Em certo momento, ele apontou para o sapato que estava na perna acidentada e me disse: ‘Doutor, cuidado para não sujar muito o meu sapato porque ele é novo’.”
Foi uma reação típica de uma criança, e de uma criança que não estava acostumada a ganhar sapatos novos com muita freqüência.
Os pais de Roberto Carlos só ficaram sabendo do fato quando ele já tinha sido socorrido pelo bancário Renato Spíndola. Em seguida foram todos imediatamente para o hospital, sem ainda saber a real gravidade do acidente. A primeira reação foi de revolta contra o maquinista Walter Sabino. O pai de Roberto Carlos estava convencido de que aquilo fora resultado de imprudência e desatenção do condutor do trem. Este, por sua vez, se explicava dizendo que não viu ninguém na linha férrea no momento em que fez a manobra para pegar um outro trilho e seguir viagem. Quando ele percebeu alguma coisa, numa fração de segundo a máquina já tinha atingido o garoto. Robertino Braga não se conformava e queria fazer justiça com as próprias mãos. “Ele ficou tão fora de si que disse que ia matar meu marido. Walter teve que se esconder dentro da estação até que Robertino se acalmasse”, afirma Anita Sabino, esposa do maquinista.
Naquela mesma manhã, no hospital da Santa Casa, o médico aplicou uma anestesia local de novocaína no acidentado e deu início à cirurgia. Para distrair um pouco a criança, o Dr. Romildo pegava uma filha de papel em branco e ficava recortando bichinhos como peixes, lagartixas, cavalos… Na época, em casos semelhantes, era comum fazer a amputação da perna acima do joelho, prática mais rápida e segura. Mas Romildo tinha acabado de ler um estudo americano sobre ciência médica que explicava que os membros acidentados devem ser cortados o mínimo possível. Assim, a amputação da perna do garoto foi feita entre o terço médio e o superior da canela – apenas um pouco acima de onde a roda de metal passou.

Final

Essa providência fez com que Roberto não perdesse os movimentos do joelho direito e pudesse andar com mais desenvoltura. Mas por causa dela a cirurgia demorou mais, deu mais trabalho e exigiu um acompanhamento mais cuidadoso ao paciente. Durante seis meses o Dr. Romildo e um outro cirurgião da Santa Casa, Dalton Penedo, tiveram que fazer curativos diários na perna do garoto – tudo acompanhado com grande expectativa pela família, pelos amigos e pelo próprio Zunga.

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As musicas Divã e Traumas, conta um pouco sobre o acidente:

Divã:

"Relembro bem a festa, o apito
E na multidão um grito
O sangue no linho branco
A paz de quem carregava
Em seus braços quem chorava
E no céu ainda olhava
E encontrava esperança
De um dia tão distante
Pelo menos por instantes
encontrar a paz sonhada."

phpBB [video]

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 09:32
por Sonny Corleone
Que história triste.

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 09:58
por terroso
Eu tenho um vizinho que talvez seja o maior fã do RC.
Agora sinceramente, não canta nada e ainda é chamado de rei...

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 10:16
por Violence
Não sou fã dele como cantor, mas acho algumas letras dele lindas. Acho que essa passagem da perda da perna seja o maior motivo pra ele lutar tanto contra a liberação das biografias não autorizadas.

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 10:19
por rockit
Bom dia, caro forista.
Poderia nos fornecer alguma espécie de resumo ou, pelo menos, destacar pontos importantes para facilitar o debate?

Obrigado.

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 10:43
por thiagobjj
Tbm acho melhor compositor que cantor. História triste demais

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 10:54
por Diego Garfield
rockit escreveu:Bom dia, caro forista.
Poderia nos fornecer alguma espécie de resumo ou, pelo menos, destacar pontos importantes para facilitar o debate?

Obrigado.
e ai Rockit

fala um pouco da historia da mutilação do RC
eu nunca fui de olhar muito isso mas bateu a curiosidade e pesquisei
e a historia é triste e ele retrata bem em suas musicas

em resumo o pé dele e uma parte da canela foi decepada por uma locomotiva
uma de suas professoras foi grita p ele sair de perto do trilho , ele e uma garota e acabou q ele se assustou , tropeçou e caiu no trilho.

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 11:14
por cardonelli
Professora FDP, foda como mulheres no geral tendem a entrar com facilidade em desespero sempre piorando a situação ...

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 12:06
por federer
Não li porque odeio historias tristes, essa historia é verdadeira mesmo?
Porque ouvi dizer que ele anda ate de moto

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 12:12
por rockit
porra valeu diego.. bom resumo..
cara nao sabia q o roberto carlos era manco. caraca o cara esconde direitinho
sera q eh por isso q eh cheio de manias??

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 14:32
por Johnny Ramone
Contar a história é mole. Quero ver é postar uma foto dele com a perna mecânica...

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 15:48
por bicolor
Por isso esse cara é cheio de manias, não sou fã tmb, mas como todos disseram e tenho que concordar, tem excelentes letras...

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 16:08
por Ricardo Valota
Marcou talvez um dos capítulos mais lindos da história da música brasileira....

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 16:23
por Lancaster
Olha, eu ouvi falar do acidente e sabia que o RC tinha uma perna mecânica, mas ele nunca se pronunciou sobre o assunto na mídia e a mídia sempre o respeitou... realmente, é um trauma para a pessoa e todos respeitam.

Acredito que muita gente não sabe sobre o ocorrido, ou se ouviram pensam ser lenda urbana... já conversei com amigos sobre isso, e a maioria não sabia do fato... eu mesmo acreditava ser lenda urbana... eu só tive certeza mesmo quando li sobre o acidente do Wagner Montes, que também teve uma perna amputada, e uma das pessoas que o ajudaram foi a Nice, então mulher do RC... foi a primeira vez que eu vi citarem o acidente do RC e a Nice deu toda a assistência para o Wagner Montes com o médico que fazia as próteses para ele.

Tenho uma amiga que perdi contato há anos, mas ela era de Cachoeiro de Itapemirim, e ela me contou que esse apelido carinhoso "Zunga", só as pessoas de lá conheciam... certa vez, em um show, alguém da platéia gritou esse apelido enquanto ele cantava, ela disse que ele parou de cantar e perguntou se havia alguém de cachoeiro de itapemirim na platéia, emocionado... :lol:

Não sou fã das músicas dele, mas o admiro muito como pessoa... não é aquele artista que corre atrás dos holofotes, que busca chamar atenção... não fica ostentando, não faz festas de luxo... mas está sempre no topo, é o eterno Pelé da música no Brasil.

Eu tenho certeza absoluta, mesmo com toda a discrição, que ele ajuda muitas instituições e pessoas carentes, assim como o Silvio Santos.

Re: Roberto Carlos e o Acidente que o Mutilou.

Enviado: 18 Jul 2015 16:39
por General Moscardo
terroso escreveu:Eu tenho um vizinho que talvez seja o maior fã do RC.
Agora sinceramente, não canta nada e ainda é chamado de rei...
Ah tá bom...

Me diga que outro cantor nacional poderia ter título de rei?

Qual cantor vendeu mais discos que o RC?

Qual banda/dupla/cantor tem mais sucessos que ele em qualidade e principalmente quantidade?

Se você fizer um apanhado das melhores dele juntará facilmente mais de 50 músicas muito boas.