Filho_da_D.Florinda escreveu:
É sim, mas é acadêmico, maçante.
Quem tem boas indicações é o usuário Pain, que lê muitos livros de economia do que eu. Qualquer coisa mande um mp pra ele.
Quando o autor fala "investiu", "o investimento do governo no Bolsa Família", ele não está se referindo ao Investimento e sim a um sinônimo da palavra injetar.
Programas de transferência de renda ou benefícios assistencialistas são classificados como GASTO, pois não possuem relação com a POUPANÇA.
O texto está descrevendo o fenômeno da multiplicação Keynesiana, que por gerar fluxo de receitas acaba-o multiplicando.
Explicando de uma forma bem leiga:
Pense no Alfeganistão. Um país bastante "igual" de acordo com o índice de Gini, mas extremamente pobre.
Ali os moradores possuem uma renda bem baixa, que os incapacita de empreender, de criar negócios, ou outras formas de se obter uma renda extra.
Então se o governo resolve dar para uma parte da população um dinheirinho, esses beneficiados vão gastar no supermercado para matar a fome deles.
O dono do supermercado com uma demanda extra pelos seus produtos vai comprar mais produtos do seu fornecedor, ou contratar mais trabalhadores, ou abrir mais um mercadinho. Terão mais pessoas trabalhando na colheita, mais caminhoneiros, etc etc.
O multiplicador tem essa ideia. É o famoso: dinheiro gera dinheiro.
Todavia, há duas coisas que deve-se por na balança para verificar se esse tipo de política é eficaz. Quais são?
1. custo de oportunidade.
2. margem de crescimento.
Custo de oportunidade pois o multiplicador Keynesiano é válido para qualquer componente da renda. Então a poupança pública também sofreria o efeito multiplicador Keynesiano, caso o governo não tivesse feito os gastos públicos (obs: política de consumismo também é GASTO) .
Explicando melhor:
Na macroeconomia a gente diz que a poupança = investimento. Pense por exemplo que se a população aumenta sua poupança, os bancos podem fazer emprestimos bancários mais baratos ou com exigencias mais flexiveis e a população com condições de emprestímos mais vantajosos pode "criar mais capital" (os juros baixo do EUA são um dos grandes motivos de eles serem reconhecidos pela alta produtividade). Mesma coisa o governo que quando possui mais poupança pode financiar mais obras, criar bancos de fomento ao desenvolvimento e assim por diante. Assim como o Gasto público sofre o efeito do multiplicador, a poupança (investimento) também sofre. Então numa análise do custo de oportunidade, voce teria que comparar tais situações. Lembrando que o nível de investimentos voce pode verificar pelo PIB através do FBKF.
Segundo ponto é a margem de crescimento. Então voltando ao exemplo do supermercadinho veja que o gasto público no começo deu certo pois a cidade era tão miserável que havia margem para se crescer na região. Mas chega um momento que as pessoas param de aplicar o capital, pois as demandas foram todas atendidas. Por exemplo: na região comercial de SP tem uma loja chamada Lojão do Brás. Quando o dono abriu a loja ele tinha uma demanda enorme a ser atendida. Então ele contratou mais funcionários, diminuiu os preços, comprou mais balcões, cabides, espelhos e etc. Vendo que parte do público comprava em outras lojas por causa das filas enormes, o que ele fez? Comprou leitor de etiquetas, digitalizou o estoque, pagou treinamento para os funionários, comprou guiche eletronico e etc. Chegando num ponto ótimo ele parou de investir. Afinal, ele não venderia mais a partir de então, a não ser que A RENDA DAS PESSOAS AUMENTASSE.
Por isso que a política de consumo e distribuição de renda parou de funcionar depois de alguns anos. É o que a Dilma disse ontem: esgotaram-se os recursos (renda).
Aí voce pode me perguntar: o investimento (poupança) também não se esgotaria?
A resposta é não. E é daí que vem a grande diferença do crescimento por meio do GASTO X por meio do investimento.
O Gasto com o tempo se esgota e leva a inflação. O investimento leva à produtividade (que voce pode verificar pelos dados do Bureau Larbor Statistcs), pois está relacionado DIRETAMENTE ao CAPITAL. O aumento da produtividade atrai o capital estrangeiro que atrai tecnologia, investimentos transnacionais, faz com que o sistema não se esgote principalmente porque vivemos num mundo globalizado. Logicamente, o investimento pode levar a inflação também.
Bom, tentei explicar de forma bem leiga mesmo. Faltam muitos outros detalhes rsrsrs, mas creio que ajude um pouquinho.
Show de bola sua explicação, bastante coisa fica clara! Agradeço por sua dedicação em responder de forma tão didática!
Então, achei interessante a passagem que vc fala da taxa de juros dos EUA e a parte de que investimento leva à produtividade e atraí capital estrangeiro... Lembra que sou leigo e me faltam os conceitos mais básicos, então, devo fazer algumas observações equivocadas conceitualmente.
Como os EUA conseguem manter a taxa de juros baixa sendo que eles são altamente endividados? Peguei essa figurinha aqui ainda há pouco:
Quando o governo faz investimentos em infraestrutura, ele possibilita um crescimento mais sustentável, pois o país fica mais competitivo - acho que, inclusive, para um país que vive basicamente de exportar commodities isso é essencial. E nem nesse ponto chegamos, haja vista os inúmeros gargalos que temos no país.
Tem o aspecto social e de segurança alimentar: no Brasil, tínhamos um enorme contingente de pessoas que não tinham comida. Essas pessoas hoje podem comer - não vou discutir se isso acabou com o déficit nutricional severo que vitima essas pessoas.
O ideal é que uma coisa (gasto) não excluísse a outra (investimento). Que pudéssemos resolver o problema emergencial que são as pessoas sem acesso a alimentação mínima sem comprometer a capacidade de investimento do Estado, que sabemos que é reduzida.
Minha pergunta é: isso é possível de ser feito? O Estado gasta mal o dinheiro público, muito por conta da burocracia estatal, a corrupção e até a questão de funcionalismo público mal qualificado (tenho a impressão que isso talvez custe mais caro que a corrupção).
Sobre a questão de atrair capital estrangeiro: O Brasil está passando por um processo de desindustrialização que me parece ser um problema bem grave. Novamente, sou leigo no assunto, mas percebo que muitas empresas nacionais estão sendo compradas por empresas gringas, nosso ritmo de registro de patentes continua baixo, nosso sistema educacional forma EMPREGADOS, não empreendedores e a indústria mais sofisticada (automobilística, linha branca, eletrônicos...) é basicamente composta por players estrangeiros.
Isso é minimamente sustentável? Porque isso parece ser a mesma relação da margem de crescimento. Em vez de ser o mercadinho do Bras, vai ser uma Volkswagen... a renda das pessoas vai chegar num teto que as permita comprar os produtos que essas empresas estrangeiras fabricam. Entretanto, vai esbarrar num limite que nunca as permitirá empreender num mercado que beira um cartel.....
Vimos exemplos desse tipo quando as montadoras chinesas tentaram entrar no Brasil....
Novamente, valeu pela resposta e agradeço se vc puder esclarecer essas dúvidas!
Abs!