Matéria da época da morte....
O touro Bandido se foi, mas sua linhagem deverá permanecer por longo tempo nas arenas brasileiras. O proprietário do animal, o empresário Paulo Emílio Marques, já empreende um estudo genético, inspirada na tecnologia americana, para perpetuar as mesmas habilidades que fizeram de Bandido um mito internacional. O touro morreu na manhã de domingo, dia 4 de dezembro, na fazenda Santa Martha, em Icém. Há pouco mais de dois anos, os veterinários diagnosticaram um carcinoma (câncer de pele maligno) no olho esquerdo. ?É uma doença comum para animais da raça dele, pois eles têm a cara branca e ficam muito expostos ao sol?, diz o veterinário Alfredo Maia Filho. O tumor foi controlado até o segundo semestre deste ano, quando se espalhou para garganta, pulmões e cabeça. ?Ele ficou no hospital de agosto a outubro fazendo quimioterapia. Mas não estava contente lá. Decidimos levá-lo de volta para a fazenda. Ao chegar lá, ele reagiu novamente?, conta. ?O Bandido era um boi sensível e inteligente. Escolheu o lugar que queria morrer.?
A inteligência e a imprevisibilidade são as principais características do animal, segundo o proprietário. ?O Bandido era diferente de todos os outros. Ele é um marco do rodeio brasileiro e mundial. Era um animal completo?, afirma Marques. O empresário conta que se emocionou na despedida. ?Foi muito triste. Perder o Bandido é como perder um animal de estimação. É uma parte da minha história, da história do rodeio que se vai.? O enterro foi realizado às 17 horas no Parque do Peão, em Barretos, e acompanhado por cerca de 200 pessoas. Foi preciso uma grua para colocar o animal na sepultura.
Estrela
Bandido ficou conhecido no mundo dos rodeios por ser indomável. Mais de 200 peões tentaram permanecer oito segundos em seu lombo e apenas um conseguiu. ?Ele derrubava e corria atrás do peão. Quem mandava na arena era ele?, afirma Marques. O mito em torno de touro chamou a atenção da autora Glória Perez, que fez dele o protagonista da novela ?América.? Com a participação no folhetim, Bandido ficou mundialmente conhecido pela cara de mau e a mania de cavucar a terra com o chifre. Para manter a forma, o touro recebia alimentação diferenciada, praticava natação e recebia tratamento especial até mesmo nos cascos.
Linhagem
Bandido deixa três clones, 70 filhos e mais de 2 mil sêmens congelados. Os clones, realizados em 2006, fazem apresentações em rodeios de todo o País e já apresentam um comportamento semelhante ao do original. ?Eles não gostam que se aproximem deles?, afirma o veterinário. Já os filhos e os sêmens são utilizados para a criação de uma linhagem de touros de rodeio. ?Cerca de 98% dos animais que pulam nos Estados Unidos são filhos ou netos de touros de rodeio. A habilidade de pular é transmitida geneticamente.? O objetivo da equipe de Marques é reproduzir essas mesmas características nos descendentes do touro. Isso é realizado pela técnica da fertilização in vitro. Os primeiros sinais de que a técnica dá certo já são percebidos pelo empresário. Entre os novos xodós da linhagem, estão dois netos do touro. ?Vejo no olhar deles um pouco do Bandido. Eles serão excelentes puladores. Puxaram ao avô.?
Peão lamenta morte de boi
O peão campeão de Barretos Neylovan Thomazelli, 30 anos, recebeu com tristeza a morte do touro que o deixou famoso em todo o País. Ele desafiou o touro Bandido duas vezes. Em uma delas, foi lançado a quase 6 metros de altura. ?Ele era um animal diferente. Sabia exatamente o que estava fazendo na arena.? O primeiro encontro dos dois foi no rodeio de Jaguariúna, em 2001. ?Ele ainda não era tão famoso como hoje?, diz. Nesta ocasião, Thomazelli foi jogado pelo touro a cerca de 6 metros de altura. Na queda, ele quebrou a clavícula e ficou quase nove meses sem montar.
Enquanto se recuperava da lesão, o peão viu o touro consolidar sua fama de invencível. ?Quando o Paulo Emílio lançou os desafios com o Bandido, disse para mim mesmo: ainda te pego, bicho.? E assim foi. Em 2003, em Barretos, Thomazelli tentou novamente domar o touro, mas não conseguiu.
