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Toca o hino! Tó e Evelyn dão o troco em coreanos e levam ouro na bocha
Um dia após serem derrotados na fase de grupos por rivais, Antonio Leme e Evelyn de Oliveira têm tarde dourada e conquistam medalha inédita nas duplas mistas BC3


Nada como um dia após o outro. Após ser derrotado pela dupla mista da Coreia do Sul no domingo, por 4 a 1, pela fase de grupos da categoria BC3 da bocha (atletas com deficiências muito severas, que usam instrumentos auxiliar, podendo ser ajudados por outra pessoa), o time brasileiro entrou na Arena Carioca 2 nesta segunda-feira com status de desafiante. O rival era uma pedreira: número um do ranking, campeão paralímpico de Pequim 2008 e quarto em Londres. Estreantes em Paralimpíadas, Antonio Leme, o Tó, Evelyn Oliveira e a reserva Evani da Silva tinham a missão de conquistar o inédito ouro para o país em uma classe que jamais disputara nas duas edições anteriores do esporte. E eles jogaram, jogaram muito. E com um atleta a mais. Na arquibancada, a torcida contagiava e ecoava os tradicionais "eu acredito" e "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" para incentivar e pressionar os asiáticos. Valeu a pena! O ouro veio.
- É algo incrível. Eu já ganhei algumas medalhas, mas na Paralimpíada, dentro do Brasil, é especial - afirmou Evelyn de Oliveira, logo na saída de quadra.
Ao fim de quatro "ends" (parciais), um novo capítulo na história da bocha brasileira estava escrito. Após começar vencendo por 3 a 0 e permitir a reação da Coreia do Sul, os brasileiros fecharam a decisão por 5 a 2, ganhando o direto de subir no lugar mais alto do pódio. Toca o Hino Nacional Brasileiro.

Mas quem disse que seria fácil. O placar de 3 a 0 ao fim da primeira parcial era surpreendente, afinal, não é comum na bocha tamanha vantagem. Nas duas seguintes, os coreanos levaram e descontaram a diferença para 3 a 2. Veio a última, se os coreanos vencessem por um ponto de vantagem, levariam à prorrogação. A Arena Carioca 2 ficou apreensiva e com raiva. Por conta de um movimento de Evelyn, entendido pela arbitragem como irregular, o Brasil foi punido, e o adversário teve direito a jogar duas bolas extras.
- O árbitro de linha, que fica atrás, interpretou que eu não fiz o movimento de descaracterização do jogo, que é uma regra. Ele não viu e puniu a gente, devolvendo duas bolas ao adversário. Me deu uma certa tensão, achei que os caras tinham a chance de virar o jogo, rolou toda uma confusão. Chamei meu parceiro (Antonio) e disse para irmos para o jogo, deixar rolar. O que tinha que ser estava nas mãos de Deus. E aconteceu (o ouro). Era o que Deus tinha planejado para gente - explicou Evelyn.
O público inflamou mais ainda, e o local virou um caldeirão. A cada jogada dos asiáticos, o secador brasileiro aumentava sua potência. Deu certo. Nem mesmo os líderes do ranking da categoria passaram imunes à pressão. Vitória canarinho. Explosão em quadra.
Cadeirante, por conta de uma paralisia cerebral, Antonio Leme pediu ao irmão para ser jogado no chão, assim que se confirmou o resultado. Prontamente atendido. Valia tudo ali. O ouro era verde e amarelo.
- Ele me pediu e eu joguei. Muita emoção naquele momento - afirmou Fernando.



Encerrada a partida, a emoção da quadra seguiu pelos corredores e vestiários da Arena Carioca 2. Um dos mais extasiados era Fernando Leme, calheiro e irmão de Antonio Leme. Ao encontrar com Bruno, assessor do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), lembrou do pai Sebastião, que morreu em fevereiro deste ano.
- Meu Deus, velhinho deve estar sambando com essa música. Era boêmio, pandeirista. Deve estar muito feliz lá em cima. Sentimento indescritível - afirmou o mais novo da família Leme, enquanto ouvia o samba ser tocado na arena.