Paulo J. escreveu:Mitologia?Caiu no Brasil ontem?Marx pode ate ser estudado, mas ser levado a sério é que não pode. Cadê o mesmo empenho em estudar o Adam Smith? Você é que tá superestimando os professores e achando que os alunos tem preparo para escapar de doutrinação(alguns só vão perceber quando já tiverem saído do mundinho das universidades e caído no mundo real). A educação brasileira já é nivelada por baixo a muito tempo, mas não falta defensores do quadro atual.
Cara, sou formado em história por uma federal. Sabe quantos textos de Marx tive como leitura obrigatória em alguma disciplina da história na minha graduação? 1. Apenas uma professora colocou como leitura obrigatória um texto de Marx. A disciplina era História Moderna 1 e o capítulo era Acumulação Primitiva de Capital - acho que do livro O Capital. Este não é de forma alguma um texto doutrinário ou panfletário, mas sim uma análise histórica muito bem construída ainda que datada. Os estudantes de economia da unb estudam mais capítulos de O Capital, sendo que o domínio quase que absoluto no departamento de economia é de correntes do liberalismo econômico - especialmente a escola de Chicago. Sabe quantos livros de gramsci eu tive como leitura obrigatória? 0, nem mesmo um capítulo. Sabe quantos livros de Simone de Beauvoir tive que ler? 0, nem capítulo nem resenha sobre. Onde tive mais leitura de Marx foi em disciplinas de Ciência Política - li o manifesto comunista, a ideologia alemã, trechos do capital -, mas nestas mesmas disciplinas li também Stuart Mill, Hobbes, Locke, O Federalista, São Tomás de Aquino...
Nunca tive doutrinação marxista ou feminista ou foucaultiana ou culturalista ou neo-positivista. No departamento de história da unb, tem professora feminista, tem professor ligado a escola francesa de história cultural, tem outros ligados a escola narrativista americana, tem outros ligados à escola alemã (koseleck, rusen...), tem um ou dois que se identificam com o marxismo. Ainda assim, esses marxistas não encaram Marx como profeta ou Deus, nem usam a abordagem esquemática do materialismo histórico. Por fim, o aluno tem a opção de colar no professor que melhor se encaixa com suas ideias, de adotar o marco teórico que melhor ajudará na análise de seu objeto de pesquisa.
Ps.: Não sou marxista, mas entendo que Marx deve ser estudado e levado a sério sim pela qualidade de suas obras, independentemente de concordar com a visão dele (um europeu do século XIX) ou não. O que não podemos é encará-lo como um profeta ou uma divindade como certo marxismo tacanho fez muitos pensarem.
Ps.: Quando estudei história contemporânea (2 semestres), a base da bibliografia foi Hobsbawn e Kissinger. Já, quando estudei história do extremo oriente, o professor era antipetista e deu até artigo da veja como leitura obrigatória. Nas disciplinas sobre História da América, tive como professor em dois semestres um ex-guerrilheiro do sendero luminoso que odiava marxismo - o maluco ficava vermelho de raiva quando algum aluno defendia o marxismo na aula dele

. Poderia ainda citar muitos outros exemplos de como essa doutrinação marxista é uma paranoia, mas acho que estes já foram suficientes.