Mais de 300 militares brasileiros foram levados para área isolada no sul. 'Pessoas ficaram expostas, não havia como se proteger', diz chefe da missão.

Em entrevista exclusiva ao G1, Pinheiro afirmou que o coronel que comanda as tropas do Brasil, Sebastião Roberto de Oliveira, todos os seus auxiliares, duas companhias de infantaria e mais 50 homens que integram a engenharia do Brasil foram levadas para as cidades de Miragoâne, Les Caye e Jeremie, todas ao sul, que ficaram isoladas e foram totalmente devastadas.
"As ruas estão alagadas, estradas soterradas, as pontes destruídas e arrancadas pelas ondas. O furacão deslocou-se sobre o país em uma velocidade pequena – entre 4 km/h e 10 km/h – mas com velocidade de seu redemoinho que chegou até 230 km/h. Ele parou em alguns momentos sobre o país, pegando tudo, sem salvação”, diz o general. As ondas, no litoral sul, atingiram o litoral com mais de 3 metros de altura.
“As pessoas ficaram totalmente expostas, não tinham onde se proteger, porque os telhados das casas nestes locais não resistem ao vento e foram levados. Árvores, até coqueiros de metros de altura, foram arrancados totalmente pelas raízes. Como se alguém pegasse, pelas mãos, e arrancasse como se fosse capim”, diz Pinheiro, que sobrevoou a área atingida na tarde de quinta-feira (6).

As cidades ficam a mais de 200 km e a 6 horas de carro da capital, onde fica a base do Brasil atualmente. A situação logística de acesso pelas estradas impossibilita o deslocamento rápido de suprimentos, como gasolina.
A ONU possui desde 2004 uma missão de paz no Haiti, quando o país passou por uma convulsão social que levou à queda do então presidente Jean Bertrand Aristides e um princípio de guerra civil. A operação internacional, atualmente com 2.370 homens, é desde o início liderada por um general do Brasil e tem o maior contingente de tropas brasileiras - hoje, passam de 850 soldados.

O objetivo das tropas do Brasil agora é desobstruir estradas bloqueadas, chegar a comunidades que estão isoladas e sem comida, luz ou comunicação em Miragoâne, levar comida aos sobreviventes e, em seguida, começar o trabalho de reconstrução das casas. Alguns pelotões também chegaram a Jacmel e Petit Goave, também atingidas pelo olho do furacão.
“Os comandantes lá estão com autonomia para tomarem as decisões rápidas com a comunidade local. Só voltaremos de lá quando os problemas estiverem resolvidos”, afirma.

“A área atingida é maior do que o terremoto, além da dificuldade de ligação com estes locais. Mas os militares estão empenhados em cumprir a missão, principalmente a engenharia, que está executando trabalho de guerra, desobstruindo estradas e chegando a locais bloqueados”, afirmou Pinheiro.

O Conselho de Segurança da ONU deve avaliar na próxima semana se a missão de paz continua ou não no Haiti. O procedimento é padrão, e acontece desde 2004, quando a missão de paz foi criada.
A ideia inicial da comunidade internacional era deixar o Haiti até o fim de 2016. Mas seguidos adiamentos das eleições presidenciais, após a invalidação de um pleito realizado em outubro de 2015 por causa de suspeitas de fraudes, levaram o Haiti a nova instabilidade política – atualmente, o comando está com o presidente interino Jocelerme Privert. As eleições, que estavam marcadas para dia 9 de outubro, foram novamente adiadas.
Pinheiro acredita que, apesar do ocorrido, o mandato das tropas deve ser renovado por apenas mais seis meses, como o programado, mantendo o número atual de soldados no terreno. "Toda hora pode acontecer qualquer coisa aqui", diz o general.


