
Vitor Belfort perdeu e, entre piadas e análises, a TRT (terapia de reposição de testosterona) voltou a ser tema, como esperado. Aos 38 anos e afastado do octógono desde novembro de 2013, o carioca foi obrigado a abandonar o tratamento no período e, após uma visível perda de tônus muscular, notada na pesagem para o UFC 187, o carioca se mostrou apático diante do campeão Chris Weidman, principalmente quando o combate foi para o chão. A pergunta: teria a queda do level de testosterona em seu corpo determinado seu rendimento no último sábado (23)? A queda, não, mas o fim da reposição sim.
E para defender a minha tese, separei alguns pontos que julgo necessários. A começar pelos exames randômicos feitos nos astros da disputa do título dos pesos médios (84 kg) que apontaram não apenas a inusitada normalidade do brasileiro nos níveis de testosterona como a impensável superioridade do ‘Fenômeno’ no quesito. Uma surpresa e tanto ao se tratar de alguém que ainda se declara portador da hipogonadismo, doença que afeta a produção do hormônio. Ou seja, o maridão da ex-modelo Joana Prado estava em dia com seu corpo e pronto para a batalha, pelo menos no papel.
Aí vem um outro ponto que, para presentificar, terei que lançar mão de um certo apanhado histórico da carreira de Belfort. Veja bem, não é de hoje que dois detalhes são citados à exaustão por quem já trabalhou, treinou e/ou conviveu com ele: 1 – dono de talento nato para aprender qualquer coisa que se pareça minimamente com alguma modalidade esportiva (já vi treinador de wrestling, boxe e muay thai de alto gabarito atestarem a premissa) 2 – quando encarado, testado, confrontado e provocado, o ‘Leão’ vira gato. E para a minha linha de raciocínio, o ponto de número dois importa.
Histórico
Vamos lá, você se lembra da última vez que Vitor reverteu o resultado de alguma luta de MMA? E qual memória te vem a cabeça dele suportando a pressão do adversário, sobrevivendo a um atropelo e arrastando a disputa até o final do tempo regulamentar? Pois é, essa questão aí me faz refletir sobre o quanto ele foi criticado ao longo de sua carreira por morrer no gás (desde o UFC 15, para ser exato), sendo que o buraco parece ser muito mais fundo do que não ter pulmão para subir uma ladeira: por vezes, quando pressionado, o Belfort parece parar de acreditar no seu potencial, seja lá isso de forma racional ou em seu subconsciente. E, com este cenário, não há nada que faça o cara lutar contra o próprio cérebro, defender os socos, tirar o Chris Weidman da montada e sentar o sarrafo no americano.
Não é por acaso que o Weidman provocou o brasileiro como nunca antes na sua carreira, assim com também não foi por acaso que Anderson Silva usou uma máscara para encarar o mesmo rival na pesagem para a luta entre eles, ainda em 2011. A intenção sempre foi ‘quebrar a sua mente’. “Não tem segredo, Wanderlei [Silva]. É só não andar para trás, todo mundo sabe que ele é cagão. Ele é mesmo, você sabe”, aconselhou Spider durante as gravações do TUF Brasil 1.
Outro exemplo? Quando o Spider se preparava para enfrentar Vitor, o preparador físico do Aranha e que já havia treinado o ex-Casa dos Artistas anos antes, Rogério Camões, mandou o recado em entrevista ao Passando a Guarda, programa apresentado por Jorge Guimarães, empresário de Anderson e ex-manager do atleta carioca: “Joinha, todo mundo sabe que o Vitor perde força depois do segundo round”.
Não me parece que o preparador físico iria atestar assim do nada que seu ex-atleta, inclusive no período em que trabalhavam juntos, não tinha gasolina no motor para dar giro por mais de dois rounds. Não que não tenha um fundo de verdade, até porque o histórico de Belfort dá essa brecha e Rogerão conhece as habilidades do Belfort como poucos, mas também faz sentido pensar que a provocação tivesse como foco abalar a confiança do desafiante. Do tipo: “Vitor, você vai cansar. Eu sei disso e você também”. Com essa pulga atrás da orelha, a tampa do tanque fica aberta e a gasolina acaba mais rápido.
Reposição de confiança
Mas onde entra a última frase do primeiro parágrafo deste texto? Simples, quando fazia TRT Belfort tinha níveis hormonais normais e elevados no seu máximo. Ou seja, era um veterano que luta MMA desde a década de 90 exalando testosterona como um garoto de 18 anos, e isso, mais do que refletir em explosão, velocidade e elasticidade ao já explosivo, veloz e elástico lutador, garantia confiança como nunca antes visto em sua carreira.
Luke Rockhold, outro grande ‘amigo da onça’ que não perde uma chance de criticar Belfort, deu um ponto de vista interessante em Las Vegas durante uma sessão de perguntas e respostas aos fãs. “Ele sempre foi trapaceiro, e a TRT era uma trapaça, claro. Ela fazia dele mais confiante, se achar invencível, e isso é fundamental para um lutador”.
Experiente, habilidoso, com níveis hormonais de garoto e com a confiança lá em cima? Pergunte para o próprio Rockhold, Michael Bisping e Dan Henderson o quão difícil é de segurar o trem desgovernado…
Fonte: http://www.agfight.com.br





