de luta e espera enfrentar americano no Rio de Janeiro, mas evita deslumbramento

Paulo Borrachinha estreou no Ultimate Fight Championship com muito barulho, no último sábado, em Fortaleza. Ele levou apenas 1m17 para nocautear o sul-africano Garreth McLellan na abertura do evento. Mas o lutador mineiro poderia ter iniciado sua trajetória no UFC em maio do ano passado, quando foi cogitado para substituir Anderson Silva diante de Uriah Hall, em Curitiba. Só faltou o americano aceitar. Após a estreia irretocável, Borrachinha fez o desafio com endereço certo.
- Não tenho nada pessoal contra ninguém. Mas essa luta, por exemplo, que não aconteceu no UFC de Curitiba, que seria com Uriah Hall, no lugar do Anderson, ele não quis. Então, acho que me colocar contra ele seria uma boa para a gente ver se ele vai correr de novo. E é um striker também, seria uma luta bacana. Acho que ele também seria nocauteado - disse o confiante lutador, dono de um cartel de nove vitórias em nove lutas, todas vencidas no primeiro round.
Borrachinha e seu staff estão de olho no UFC 212 - ou UFC Rio 8 -, marcado para o dia 3 de junho, no Rio de Janeiro. Mesmo com apenas 25 anos, os cinco últimos no MMA, o lutador parece não se deslumbrar com a chegada à maior organização da modalidade no planeta. Segundo ele, isso o ajuda a aliviar uma possível pressão.
- Não fico fantasiando demais também. Sei que é um megaevento (no Rio), mas tento ver como mais uma luta. Foi assim que vi a última. Muita gente cria a pressão por causa disso, cria um monstro maior do que é. A pressão vai aumentando e a carga psicológica aumenta também. Sei que vai ser um megaevento, gostaria de lutar nele. Gosto de lutar no Brasil.
Antes de subir ao cage com Garreth McLellan, Paulo Borrachinha não escondeu as provocações para cima do adversário, e acredita que o tenha intimidado. Além disso, aposta que o público gosta mesmo é de ver “ação” nas encaradas.
- É luta. Quem gosta quer ver ação. Se você quer muita cordialidade, joga tênis, golfe. É luta, é contato, é atrito, é agressão. Tem que botar pimenta e botar pilha (...). Tenho o psicológico muito forte. Acho que é acima da média mesmo. E a minha vida toda foi assim, sempre tentando entrar na cabeça do meu adversário, desde quando o vejo pela primeira vez. Cheguei ao hotel em Fortaleza pra fazer o check-in e o vi descendo do elevador. Olhei bem dentro dos olhos dele, encarei, ele ficou meio sem graça, já fui intimidando. Acho que, durante a luta, 70% é psicológico e 30% técnico e físico. A cabeça manda na hora da luta. Essa intimidada conta, ainda mais contra o estrangeiro que está lutando aqui no Brasil. Tem que deixar o ambiente mais hostil pra ele - avalia.
Em sua estreia no UFC, o lutador peso-médio (até 84kg) chamou a atenção pelo porte físico, e não se negou a falar sobre doping. Borrachinha ressaltou que, já de olho no UFC, evitou o uso de qualquer esteroide e revela cuidado em todos os suplementos que utiliza.
- Em toda a minha carreira - fui campeão do “Jungle (Fight)”, do “Face to Face” - sempre optei por não fazer uso (de esteroides). Primeiro porque vim do TUF e sabia que a qualquer momento poderia voltar para o UFC. Tenho um médico que me acompanha em Belo Horizonte, Lucas Penchel, e conversei com ele: “Olha, não vamos usar esteroides porque a qualquer momento o UFC pode chamar. Eles não permitem, e não quero sentir aquela queda de rendimento que dá quando para de usar”. Até psicologicamente a gente ouve que sente quando para de usar. Deixa os caras tomarem e vamos lutar contra eles dopados." Não quero utilizar porque a qualquer momento o UFC vai bater na porta e tenho que estar acostumado a lutar limpo. Esteroides, então, nem pensar.
Com o mesmo médico, Borrachinha conta fazer um acompanhamento detalhado do que ingere, e usa como exemplo as dores no ouvido que teve antes da última luta, e que só puderam ser tratadas depois do aval da USADA (Agência Antidoping dos Estados Unidos).
- A questão de medicamentos, suplementos, mando tudo para ele. É uma coisa diferente, nova para a gente, analisar tudo. Eu lutava no “Jungle Fight” e no “Face to Face” sem esteroides, mas não tinha essa preocupação extrema, de ficar vendo bula de remédio, e agora tem. Então mando tudo para eles antes. Nessa luta mesmo, treinando duas vezes por dia, muito suado, tomava banho várias vezes ao dia, tive uma otite por conta de água que acumula. Sofrendo muita dor, esperei a USADA falar se podia tomar o medicamento. Estamos nos adequando.
Começo nas artes marciais

O início de Paulo Borrachinha no mundo das lutas veio aos nove anos, no muay-thai. Três anos depois, migrou para o jiu-jítsu, onde competiu de quimono até aos 18 anos. Tudo isso na cidade mineira onde nasceu: Contagem. Aos 20 anos veio a estreia no MMA, no interior de Minas Gerais, já com um nocaute. Dois anos depois, em 2014, estava no reality TUF Brasil 3, onde não foi muito longe.
- Foi uma experiência bem diferente e atípica. Confinamento, viver com 16 homens dentro de uma casa, privação de tudo, é complicado. Por um lado é positivo por ser uma experiência nova. Mas, como luta, não vejo tanta utilidade. A utilidade é que você luta mais, luta a cada semana, mas acho que não é uma visão real da luta. Você não está com o time que treina, não faz o camp que está acostumado. Luto em 84kg, mas meu peso normal é 100kg. Tenho uma certa dificuldade para perder peso. E lá na casa tinha que me manter com 86kg. Isso tudo atrapalhou muito meu rendimento. Acho que é legal a convivência, mas, se o UFC quiser refletir uma maior realidade, acho que deveria deixar o lutador ficar na casa com o seu time.
Depois que deixou o TUF, Borrachinha lutou pelo “Face to Face” e pelo "Jungle Fight". E, antes de acertar sua ida definitiva para o UFC, quase se viu com contrato com o evento japonês Rizin, antigo Pride. Uma luta que não aconteceu deixou o caminho livre para acertar com o Ultimate.
- Essa quase ida para o Rizin me frustrou mais do que não ter lutado no UFC Curitiba. Eu tinha conquistado o cinturão do Jungle Fight, defendido algumas vezes e tinha fechado com o Rizin. Ia lutar no dia 29 de dezembro (de 2016, lá no Japão. Vim para o Rio, fiquei concentrado, trabalhando duro, baixei o peso e, faltando 10 dias, recebi a notícia que a luta tinha caído. Iriam adiar para abril. Então, passei o Natal sozinho, já tinha investido um dinheiro no camp e fiquei mal. Não sabia o que fazer. Já estava pensando em fazer algumas lutas na Europa para ganhar em euro. O pessoal do Rizin entrou em contato no início de janeiro, pediram desculpas e disseram que iam ressarcir uma parte, mas que só daria para depositar em abril. Então, três dias depois, o UFC me chamou. A sorte é que o contrato com o Rizin não chegou, senão eu teria assinado e ia ficar preso um ano. Acho que o UFC é melhor, fiz uma boa escolha. Tudo conspirou para dar certo no final.
Patrocínios, corretagem e investimentos

Borrachinha continua a treinar em Contagem, com atividades focadas no jiu-jítsu, boxe e muay-thai, mas tem dificuldades para conseguir sparring. Na reta final de preparação, o lutador precisa viajar a Salvador, onde treina na academia Champion, comanda por Luiz Dórea, e ao Rio de Janeiro, onde afia o MMA na Team Nogueira. No futuro, uma mudança para o exterior está nos planos.
- A minha intenção maior, no momento, é fazer alguns intercâmbios lá, ficar um mês e voltar. A questão do wrestling é muito importante, e aqui não tem mesmo. E nessa categoria (peso-médio) tem muitos wrestlers, como o Romero e o Weidman. Em um futuro bem próximo, nós vamos. Por enquanto, ainda dá para ficar. Até vou trazer (um sparring), talvez no próximo camp, da Bahia, dependendo de quem seja o meu adversário. Acho importante ter um cara no meu peso oriundo do boxe, que tem um tempo muito melhor que os lutadores de MMA. Quero trazer também um do jiu-jítsu. Ando com ele (o irmão e técnico de jiu-jítsu Carlos Borracha) e um treinador de boxe. Esses caras eu não abro mão. Acho que isso é um diferencial também. É um investimento maior, mas onde quer que eu vá, tenho os dois lá. Agora, vou trazer mais dois atletas para ajudarem. Quando você começa a investir, dá um resultado melhor. Automaticamente, você ganha mais. Não dá para ficar: "Ah, vou gastar pouquinho". As pessoas só querem investir quando o UFC manda embora.
Com o apelido “Borrachinha” ganho através do irmão, que sempre foi chamado de Carlos “Borracha” pela elasticidade, o lutador lembra que chegou a tentar ser corretor de imóveis no início da carreira, mas conta que nada saía bem neste passo bem recente.
- Vivo de luta tem dois para três anos. O dinheiro que ganhava na luta gastava no camp, R$ 5 mil, R$ 6 mil. Mas dei uma sorte de conseguir patrocínio. Digo sorte porque é muito difícil. Consegui apoios, como de alguns alunos (do irmão, que dá aula de jiu-jítsu) que são empresários. Eles colocavam um dinheiro e colocavam a marca deles no banner. Isso me fazia poder viver do esporte. Mas era corretor de imóveis até 2015. Tentava associar, mas não dava. Não ganhava dinheiro na corretagem e nem treinava. Tive que largar, pedi um apoio da família - que não tem muita condição - e surgia o dinheiro em cima da hora, quando estava com a corda no pescoço: “Vou te dar R$ 1 mil, vou te dar R$ 2 mil”. Fez uma diferença enorme isso - finalizou.
Fonte; http://sportv.globo.com/site/combate/no ... oides.html