BJJForum

Que merda... Mas era pedra cantada, não parecia ser só um caso atípico de nocaute. Acho que vale de lembrete pra qualquer um que lute ou mesmo seja só um praticante ocasional: soco na cabeça não é brincadeira!

Lembro de uma circunstância em que eu fui nocauteado e fiquei literalmente parado e apagado em pé. Foi em um treino de boxe mesmo, e eu tava praticando um padrão de movimento de cabeça que eu tinha aprendido no dia – eu sou canhoto, mas tava em base destra. Mais ou menos, a idéia era evadir do jab deslocando o peso da perna da frente pra perna de trás e lançar um counter ao direto. O fundamento do processo é que, o tronco tem um trajeto natural dentro da base - a profundidade da flexão dependendo da abertura da base - e acompanha a distribuição de peso entre as pernas. Tu não mexe literalmente a cabeça, mas a cabeça segue o curso natural do tronco, e o movimento não serve só pra evasão, como também pra ancorar e fixar sua cabeça em um ponto e de forma que vai blindar seus neurônios de mais danos – fundamento básico que muita gente negligencia, se o cara não aprender a encaixar a cabeça ao tronco de maneira orgânica, provavelmente vai ser nocauteado muito rápido.

Nisso aí eu cometi um erro (do tipo terminal). No momento em que tu tira o peso da perna da frente e transfere pra perna de trás, tu tem que ejetar o pé da frente da base pra sair da sua posição original – de preferência jogando um jab ou fintando pra ocultar o deslocamento – e abrir um ângulo alinhando sua mão de trás ao rosto do adversário, pra evadir e contra-atacar o direto ou bloquear o cruzado (que naquele ponto ficaria na guarda e não teria tanta amplitude e força pra nocaute, ou mais provável, passaria no vazio, dado que tu estaria em distância antecipando lançar um direto). O que eu fiz foi fazer todo o processo parado, transferindo o peso de uma perna pra outra sem me deslocar e só pendulando o tronco. Ali eu não tinha ângulo, tanto pra evadir do direto quanto pra lançar o counter, e tava de frente pra mão dele, e talvez eu nem tivesse força pra nocaute, porque parado tinha consumido o torque que teria me dado rotação do quadril (o normal seria: 1. peso na perna esquerda > 2. transfere pra perna direita e simultaneamente ejeta a perna esquerda da base rotacionando o quadril > 3. fixa a perna esquerda no ponto pretendido e transfere o peso da perna direita pra perna esquerda > 4. manda o adversário babando pra lona com uma bomba de direita; o drill de movimento de cabeça é: 1. cabeça alinhada à perna esquerda > 2. desloca o peso alinhando a cabeça ao peso da perna direita evadindo do jab, o timing da evasão é quando o jab é lançado > 3. volta o peso pra perna esquerda novamente alinhando a cabeça na perna esquerda > 4. a transferência de peso de uma perna pra outra gera a rotação do quadril, a cabeça alinhada à perna esquerda saindo do direto e lançando o seu próprio). Eu levei uma pimbada de encontro tão forte – foi o pior, ele interceptando o trajeto, e eu nem vi a porrada chegando, o que também é indicativo de que eu estava muito fora da distância (na época eu tava treinando com uma galera foda, não havia perdão pra erros tolos) – que eu saí de sintonia por alguns segundos, e só voltei quando ele me deu um cruzado de leve, daí eu dei aquela sambada pra trás (isso aí é o padrão de quando tu perde o senso de equilíbrio e as pernas embaralham).

Enfim, acho que quem pratica tem que saber que, independente de ser um hobby, tu tá lidando com implicações extremamente sérias, e tem que saber se cuidar de acordo.