"Quando esse negócio de luta começou, eu nunca imaginei que no final o que importaria seria o seu cartel. Eu nunca tive essa mentalidade. Eu queria lutar contra todo mundo".
Todos adoram BJ Penn. Em qualquer roda de discussão sobre MMA, o nome de BJ será seguido de elogios, comentários nostálgicos sobre suas lutas e análises sobre seu talento. Acredito que não haja uma resposta simples para a pergunta título desse artigo: "Por que todos amam BJ Penn?", pois escolher somente um principal motivo de toda essa admiração que BJ conseguiu durante sua carreira é uma missão tão difícil quando conseguir uma queda sobre o ex-campeão do UFC.
BJ é um talento nato. Daqueles lutadores para quem você ensina alguma coisa, e no fim do treino ele já está executando aquilo melhor do que você mesmo. Prova disso é que, antes de se aventurar no MMA, BJ Penn conseguiu sua faixa preta de Jiu Jitsu em apenas 3 anos e 4 meses (6 meses para a faixa azul, 18 meses para a faixa roxa, 8 meses para a faixa marrom e mais 8 meses para a faixa preta), tempo muito menor que o necessário para meros mortais.
E isso era só o começo. Com a faixa preta na cintura, o havaiano se aventurou entre as lendas do Jiu Jitsu e se inscreveu para lutar o Mundial em 2000 entre os Penas, categoria que contava com os já renomados Fredson Paixão e Marco Barbosinha. Essa foi a primeira vez que ele chocou o mundo. Com uma guarda técnica e agressiva, BJ superou os favoritos e sagrou-se o primeiro não brasileiro campeão mundial de Jiu Jitsu na faixa preta.
Confira a raspagem que garantiu a vitória na final contra Edson Diniz no vídeo abaixo:
O título mundial no Jiu Jitsu chamou a atenção dos promotores de MMA, e BJ foi convidado para fazer sua estreia pelo UFC em 2001, lutando entre os pesos leves. Quando todos esperavam que o mais novo expoente do Jiu Jitsu exibisse suas finalizações dentro do octógono, BJ surpreendeu mais uma vez. Apresentando um boxe afiado e joelhadas agressivas, o Prodígio obteve suas quatro primeiras vitórias por nocaute.
Após algumas lutas entre os pesos leves (70kg), tendo derrotado nomes como Caol Uno, Matt Serra e Takanori Gomi, BJ decidiu subir de peso e lutar entre os meio-médios (77kg), disputando o cinturão do UFC com o então dominante Matt Hughes, que vinha embalado em uma sequência de 13 vitórias e 5 defesas do cinturão. E o havaiano precisou de menos de 5 minutos para conseguir sua primeira finalização no UFC (antes já havia finalizado Gomi pelo K-1), derrotar Hughes com um Mata Leão e sagrar-se campeão entre os meio-médios do UFC.
Faixa preta, campeão mundial de Jiu Jitsu, reconhecido como o melhor peso leve do mundo no MMA e campeão do UFC na categoria de cima. Seria um bom momento para aproveitar os louros da glória, certo?
Não para BJ Penn. Sem se apegar ao cinturão, BJ rescindiu com o UFC e assinou com o K-1, buscando novos grandes desafios. E eu digo "grandes" no sentido literal da palavra. No K-1, BJ decidiu subir mais uma categoria de peso, estreando entre os pesos médios (84kg) com uma vitória por decisão contra Rodrigo Gracie.
E quando todos achavam que BJ era maluco por aceitar lutas contra oponentes tão maiores e mais pesados, o Prodígio fez todos terem certeza que ele realmente era maluco. Diante da falta de desafiantes na sua categoria de peso, BJ pediu aos organizadores do evento uma luta contra o peso pesado Japonês Kazuyuki Fujita e seus 115kg. No entando, o japonês não demonstrou interesse nessa luta, e seus empresários colocaram outro atleta de seu plantel para enfrentar BJ Penn: o então peso pesado Brasileiro Lyoto Machida (à época Lyoto lutava entre os pesados, tendo batido 102kg na pesagem da luta contra BJ). A luta terminou com uma decisão unânime para o brasileiro.
Após essa luta, a carreira de BJ foi uma sequência de pedreiras entre os leves e meio-médios. Renzo Gracie, Georges St. Pierre, Matt Hughes, Jens Pulver, Joe Stevenson (vencendo o cinturão dos leves e tornando-se o segundo lutador na história a ser campeão em duas categorias diferentes), Sean Sherk, St. Pierre novamente, Kenny Florian, Diego Sanchez e então Frankie Edgar, na qual seria a primeira luta dessa trilogia.
Em abril de 2010, BJ foi derrotado por Edgard ao defender o cinturão dos leves pela quarta vez. Recebeu uma revanche imediata contra Edgar, sendo novamente derrotado. Na sequência, BJ voltou aos meio-médios e fez sua terceira luta contra Matt Hughes, desempatando o confronto com um nocaute. Após essa luta, um empate contra o duro Jon Fitch e uma derrota por decisão contra Nick Diaz, quando BJ, emocionado, anunciou pela primeira vez sua aposentadoria do octógono.
Todavia, ainda não era o fim da linha para BJ Penn. Pouco mais de um ano após a luta contra Diaz, BJ voltou ao octógono. A maioria dos lutadores, após tanto tempo na inatividade, teria escolhido a dedo o adversário para seu retorno, buscando uma luta não tão complicada. Mas BJ Penn nunca fez parte da maioria, e nunca escolheu luta. E não começaria a fazê-lo aos 34anos. BJ aceitou encarar Rory MacDonald, um dos maiores prospects entre os meio-médios, em luta que acabou mais uma vez derrotado na decisão dos juízes.
Mais uma vez, BJ Penn anunciou que se aposentaria após essa derrota.
Mas BJ sentia que ainda tinha algo a provar. Não aos fãs, mas a si mesmo. O Prodígio ainda não tinha certeza se seu tempo competindo em alto nível estava acabado. Então pediu aos promotores do UFC por mais uma luta, uma nova trilogia contra Frankie Edgard, que o havia derrotado duas vezes anteriormente. A essa altura, aos 36 anos, ninguém mais se surpreendeu quando BJ pediu um dos melhores lutadores dos Penas para fazer sua estreia na categoria, ao invés de alguém menos rankeado.
E pela terceira vez, Edgard derrotou BJ Penn. E pela terceira vez, BJ anunciou a aposentadoria. Mas dessa vez foi diferente. Todos sentiram que agora é pra valer. Não veremos novamente o havaiano no octógono. Não mais nos perguntaremos "Qual BJ Penn vai subir pra lutar? Ele estará treinado? Magro? Gordinho? Motivado?". O UFC perde um dos maiores lutadores da sua história.
Mas seu legado fica.
E pra finalizar, eu volto à pergunta título desse artigo: Por que todos amam BJ Penn?
Se fosse para escolher um motivo, eu não escolheria o talento, a simpatia e o bom humor, as lutas emocionantes. Eu diria que o principal motivo para BJ Penn ser amado e praticamente uma unanimidade no mundo das lutas é por que BJ Penn sempre escolheu a pior luta possível para ele. Ele sempre escolheu o adversário mais forte, mais técnico, mais pesado, mais bem ranqueado, sempre, todas as vezes, ele buscou o maior desafio.
"Lutar, pra mim, sempre foi diferente do que é para a opinião geral. Eu nunca acreditei no que as outras pessoas acreditam", disse BJ certa vez.
Para ele, lutar nunca foi questão de ter um cartel bonito e positivo, de uma grande bolsa, de um cinturão, de peso, de vaidade, de vencer ou perder. BJ viveu sua carreira pelo desafio. Em tempos onde muito se fala em super lutas e mais ainda se ouve frases como "quem quiser lutar comigo é só bater o peso e cair pra dentro", BJ sempre foi a exceção.E é por isso, e por todas as outras coisas, que todos amamos o BJ Penn, e somos gratos por termos acompanhado sua carreira no octógono.
http://bjjforum.com.br/por-que-todos-amam-bj-penn/
