Como o cancelamento de eventos do UFC por conta do coronavírus afeta os lutadores de MMA

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Como o cancelamento de eventos do UFC por conta do coronavírus afeta os lutadores de MMA

Mensagem por Dillan Grau » 18 Mar 2020 06:26

Sem lutas, atletas ficam sem salário e precisam se virar e "segurar as pontas". Academias aderem a estratégias de distanciamento social; managers torcem por retorno breve

Geraldo "Espartano" de Freitas viu três meses de preparação e investimento escorrerem pelo ralo no último domingo. Foi nesta data que recebeu o aviso de que o UFC transferiria o evento marcado para o próximo sábado, em Londres, para os EUA, num esforço para se adaptar às novas restrições de viagem à Inglaterra impostas pelo governo americano para tentar conter a escalada de contágio do coronavírus. Por não ter o visto P1, que permite a atletas entrarem e trabalharem nos Estados Unidos, Freitas estava fora do card antes mesmo de a organização cancelá-lo oficialmente na segunda-feira.

A situação deixou Geraldo numa encruzilhada de emoções. Por um lado, a vontade e necessidade de lutar; por outro, a compreensão de que o cancelamento da luta num momento de pandemia global era a decisão correta.

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Geraldo de Freitas (dir.) lutaria no UFC Londres marcado originalmente para sábado — Foto: Getty Images

- Particularmente falando, eu preciso lutar. Se eu não luto, não recebo e não tenho dinheiro, infelizmente. Eu estava precisando muito desta luta. E estava indo muito preocupado - aí junta as duas coisas, né? A minha preocupação, porque realmente é algo muito preocupante, são muitas incertezas ainda, uma doença nova… Se pensar friamente, é mais seguro que não haja mesmo nenhuma aglomeração e que a gente fique num momento com mais calma para tomar decisões - pondera Freitas, em entrevista por telefone ao Combate.com.

Esta confusão de sentimentos vai se passar na cabeça de milhares de lutadores de MMA nos próximos dias. Não é só o UFC que está cancelando eventos; Bellator, LFA e KSW já haviam anunciado cancelamentos anteriormente, e até o ACA da Rússia precisou adiar torneios marcados para as próximas semanas. O Cage Warriors, que se ofereceu a salvar algumas das lutas canceladas do UFC Londres, é o único torneio de médio porte que segue com um evento marcado para a próxima sexta-feira, embora tenha transferido a sede para Manchester devido às restrições impostas na capital inglesa.

A organização conseguiu absorver pelo menos uma luta do UFC Londres, o duelo peso-médio entre Dusko Todorovic e John Phillips. Para Freitas, é tarde para sequer pensar em passar sua luta para o Cage Warriors - seu embarque para a Inglaterra era na segunda-feira, e ele não foi. Empresários de luta também não acreditam que o UFC vá considerar empréstimos de atletas a outros eventos como uma possibilidade viável.

- Calhou de o Cage Warriors estar realizando um evento em Londres, um dia antes do suposto UFC Londres, então os atletas já estão lá. Para que os atletas não percam a chance de lutar, o UFC está organizando isso com o Cage Warriors. (...) Não é algo que, tirando esta semana, vai se repetir. Não vejo o UFC virando para a galera que está no card de Portland e liberando para lutar em outro evento. É uma situação extraordinária para que essa galera consiga lutar, que parece que é o desejo desses atletas, já estão em Londres e fizeram o camp inteiro, etc. E o Cage Warriors, como evento feeder, que abastece o UFC de prospects, por ser um evento que passa no UFC Fight Pass, acho que facilita para ter essa conexão - analisa Lucas Lutkus, manager de lutadores como Vanessa Melo e Livinha Souza.

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Ion Cutelaba viajou para os EUA um mês antes de sua luta, mas não poderá treinar no Instituto de Performance do UFC, que está fechado — Foto: Getty Images

Thiago Okamura é um empresário que tem uma atleta, a peso-galo Karol Rosa, no evento previamente marcado para Portland no dia 11 de abril, já oficialmente cancelado pela organização. Outra atleta sua, a japonesa Mizuki Inoue, estava escalada para o UFC Columbus de 28 de março, também cancelado. Seu cliente Ion Cutelaba tem compromisso marcado para 18 de abril, ainda mantido pelo Ultimate, mas precisou deixar seu país, a Moldávia, rumo aos EUA no fim de semana, porque os aeroportos locais fechariam a partir desta terça-feira. Sua intenção era treinar no Instituto de Performance do UFC em Las Vegas, mas a companhia também anunciou na segunda que fechou o espaço até 31 de março, e agora Okamura e sua equipe se movimentam para encontrar soluções.

- Como eu sempre acompanho meus atletas, também me encontro na mesma situação, cancelando todas as providências que tinham sido tomadas com antecedência e esperando uma definição da organização para remarcar as viagens. O cenário atual é inédito e estamos todos nos adaptando da melhor forma possível, sendo a prioridade a saúde e segurança de todos, atletas, estafe e público - afirma Okamura.

Algumas equipes estão aderindo à estratégia de distanciamento social e quarentena. A LAW MMA, equipe de Chris Weidman em Nova York, fechou no fim de semana e reavaliaria a situação esta semana. A Fortis MMA, de Dallas, fechou a academia até o dia 23 de março. A American Top Team, equipe de dezenas de grandes nomes, fechou o acesso a todos os membros que não sejam treinadores ou lutadores profissionais; a Fusion X-Cel Performance, onde treinam Ronaldo Jacaré e Alan Nuguette em Orlando, também. No Rio, os treinos na Nova União foram suspensos até 25 de março, exceto para quem tenha luta marcada em breve.

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As aulas comerciais da American Top Team, em Coconut Creek, estão paradas: apenas lutadores profissionais seguem treinando — Foto: Evelyn Rodrigues

Apesar disso, a posição da maioria dos lutadores ainda é de que preferem lutar, mesmo com os riscos. Mas isso já está mudando, segundo Lutkus.

- Até alguns dias atrás, antes do fim de semana, todos eles estavam super dispostos a lutar. Quando rolou agora por exemplo o problema deste fim de semana, de remontar o card nos EUA, alguns atletas americanos que trabalham comigo me mandaram mensagem, “Lucas, pode avisar ao UFC que eu luto”. Mas agora, principalmente hoje (segunda), está começando a ter um pouco dessa mudança. “Minha luta, será que vai ter? Tomara que adie, porque estou preocupado…” Tem atleta meu que estava com luta marcada na Rússia, naquele ACA, que falou hoje, “Estou torcendo para que adie o evento logo, porque eu estou preocupado de viajar para a Europa”.

- No sábado, o Brave, que ia rolar em Balneário Camboriú, foi cancelado, e eu tinha dois atletas, Lucas Mineiro e Flávio Queiroz, e eles ficaram bem chateados com o cancelamento. Eu mesmo fiquei chateado, mas hoje estou aliviado, por ter tido mais acesso às informações e ter visto a gravidade dessa parada aumentando. É questão de tempo. Hoje em dia é uma minoria de atletas que estão tendo essa consciência de não querer lutar, mas acho que é questão de dias para que essa minoria se torne maioria. Eles estão recebendo as informações todo dia como todos nós e estão se conscientizando sobre a gravidade do caso - conclui Lutkus.

O grande problema que aflige tanto lutadores quanto empresários e promotores é a falta de circulação de dinheiro causada por esses cancelamentos forçados. Como a estrutura do esporte não prevê salários ou pensões, e a maioria dos patrocínios depende da exposição da marca no dia da luta, não há um plano de contingência exceto "segurar as pontas e não gastar". Como resume o manager Alex Davis, todo mundo "vai deixando de receber dinheiro, então vai ficando ruim para todo mundo."

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O UFC APEX, onde é filmado o Contender Series, é uma opção para a realização dos próximos eventos do Ultimate que ainda não foram cancelados — Foto: Divulgação

Davis, no entanto, está otimista que a situação pode mudar mais rápido para o MMA como um todo e para o UFC em particular. Por ser um esporte individual, ele acredita que em breve o modelo utilizado no UFC Brasília, com portões fechados e apenas pessoal essencial presente, será viável para ao menos preservar os futuros eventos.

- Num primeiro momento, em que todo mundo está se apavorando, parece que vai ser ruim. Mas num segundo momento, o MMA é um esporte que pode ser feito dentro de estúdios, com poucas pessoas. Por exemplo, vai que tenha 150 pessoas envolvidas no estúdio. Daqui a uns meses, eles vão ter condições de testar todas essas pessoas tranquilamente. E além disso, vai ter uma necessidade muito grande de conteúdo. Então acho que isso tudo vai ser muito bom para o MMA. Eles iam fazer lá no Apex, que acho que é uma solução viável. Pouca gente que entra, podia testar todo mundo, é para a televisão, gerava conteúdo, e a gente ia continuar ganhando - analisa Alex Davis.

É a esperança para gente como Geraldo de Freitas - embora questões como a obtenção de vistos de viagem e o livre trânsito nas fronteiras ainda sejam duvidosas para os próximos meses, enquanto a pandemia não estiver controlada. O lutador ainda não sabe se o UFC vai pagar pelo menos sua bolsa de apresentação pela luta cancelada em cima da hora. Sua outra fonte de renda, as aulas particulares de jiu-jítsu, está parada, já que os alunos não estão treinando.

- Eu pessoalmente estou numa situação complicada, mas é o certo. Entendo que é o mais certo para todo mundo. Até porque, se parar para pensar, não somos só nós atletas que vamos sofrer com tudo que está por vir. Todo mundo vai pagar caro. Vai ser difícil alguém que não vai ser afetado por isso - termina o "Espartano".


https://globoesporte.globo.com/combate/ ... -mma.ghtml
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