Em outubro, Maurício "Shogun" Rua e Renata Rua completaram 12 anos de casados. Na época, o brasileiro enfileirava adversários no Japão, pelo Pride - principal evento de Vale-Tudo da época - e jurava continuar com a esposa na "alegria e na tristeza, na saúde e na doença". Uma outra promessa, entretanto, ele não conseguiu cumprir.
Às vésperas de enfrentar Paul Craig no UFC São Paulo, sábado, no Ginásio do Ibirapuera, Shogun relembra, de maneira descontraída, que prometeu a Renata fazer apenas mais duas lutas. O fato é que desde o casório, ele entrou no ringue - ou no cage - 24 vezes, se tornou campeão do UFC e se consolidou como uma lenda das artes marciais mistas.
- A minha mulher achava o esporte muito violento, muito mais do que ele é. Como ela não conhece muito, acha que eu vou para uma forca quando vou lutar. Então, quando me casei, prometi para ela que ia fazer mais duas lutas. E mês passado fizemos 12 anos de casados. Hoje, depois de 12 anos, prometi mais duas lutas só. Ela agora apertou o cerco e está meio que exigindo. Vamos ver agora como vai ser.
Aos 37 anos de idade, Shogun afirma que seguirá em atividade enquanto se sentir apto a executar seu trabalho com qualidade. E brinca com os fãs - e críticos - que querem aposentá-lo.
- Engraçado que tem algumas lutas que eu ganho e uns caras falam que eu devo parar. Se eu lutei e ganhei, e tenho que me aposentar, o cara que perdeu tem que se matar (risos). Acho que a galera às vezes é injusta, ou espera muito de mim. Acho que isso é muito pessoal de cada um, a hora de parar. Se eu estou feliz lutando no UFC, e o UFC está feliz em me ver lutando, porque eu vou parar porque tem meia dúzia de fãs que querem que eu pare sem motivo algum? Falo pro Eduardo, meu empresário, que vou parar na hora em que não tiver meus reflexos, meu vigor físico. Aí eu paro. Mas enquanto estive treinando bem, fazendo bons sparrings, vou continuar.
Confira a entrevista completa:
Você enfrentaria o Sam Alvey, que se lesionou e foi substituído pelo Paul Craig. Essa mudança em cima da hora atrapalha?
- Sempre atrapalha. Porque eu ia lutar com um cara do boxe, canhoto, e de repente mudou para um cara do jiu-jítsu e destro. A gente estava há um mês treinando para lutar com o Sam Alvey e mudou para o Paul. Aceitamos a luta, tivemos duas semanas para mudar os treinos, adaptar, então está tudo certo. Consegui colocar o meu jogo em cima do dele.
Como foi o camp? Deu para estudar o adversário?
- Eu dei ênfase em todo camp ao meu jogo e também no ponto forte do adversário, para não ser surpreendido. Basicamente foi isso, só tive duas semanas de redirecionamento do meu treino. Eu assisto às lutas dos meus adversários para me sentir melhor. Mas quem faz essa parte de assistir e colocar no tatame é o Eduardo Alonso, meu head coach. Ele que faz esse planejamento de treino e tudo mais. Eu assisto para ver os detalhes, como o cara gosta de lutar, ver que o cara é humano, então me sinto melhor, consigo ver a vitória, encaixar meu jogo. É mais motivacional mesmo.
É especial lutar no Brasil?
- É a primeira vez em São Paulo. Lutar no Brasil é bom porque tem o apoio da torcida, você não faz voos longos e não tem fuso-horário. O lado ruim é que todo mundo acha que você tem que dar ingresso para todos (risos). As pessoas acham que sou sócio, que tenho ingresso... tem dois lados da moeda, mas acho que compensa lutar no Brasil.
O que te move? É a parte financeira, a vontade de ser campeão novamente...
- Encaro cada luta como um sonho de vencer. O UFC é a Copa do Mundo do MMA, os melhores do mundo estão ali. A minha motivação hoje é minha família, minhas filhas, meus fãs e o sonho de vencer a luta. Já sou realizado financeiramente. Lógico que dinheiro nunca é demais, mas já conquistei muito mais financeiramente do que eu achei que iria conquistar. Na minha carreira também eu conquistei muito mais do que eu imaginava sendo campeão do Pride, do UFC e Hall da Fama. Se eu parar de lutar hoje, sou muito grato a Deus por tudo, não só na parte financeira, mas na minha vida familiar e profissional. Uma das coisas que eu falo também para o pessoal é o seguinte: se eu parar hoje, pode ser que daqui uns três anos eu me arrependa. Então não quero ter esse sentimento de arrependimento. Quero parar numa hora que eu sei que não vou voltar mais. Vejo lutadores parando e voltando, e eu não entendo isso. Eu não consigo entender o cara que para, pendura as luvas e daqui uns meses está lutando outra vez. Eu, quando parar, vou parar definitivamente, sem olhar para trás achando que deveria lutar mais. Quero parar da forma certa.
Você pensa em se tornar treinador, empresário ou trabalhar com algo fora do MMA?
- Eu já tenho alguns planos na parte empresarial, mas nada que me atrapalhe. Eu tenho uma empresa com um amigo, mas eu delego funções e não atrapalha o meu desempenho na luta. Quando eu parar de lutar, acho que esse mercado financeiramente muda muito. Eu não tenho uma meta de parar daqui uns anos e virar empresário. Vou parar uns seis meses ou um ano, pensar com calma, fazer uma coisa que me dê prazer. Sem pressa.
Em 2011, você perdeu o cinturão para o Jon Jones, que ainda estava começando. Hoje, ele está consolidado e não perdeu para ninguém. Por que ele é tão dominante?
- O Jon Jones é realmente o cara a ser batido na categoria. O MMA é muito imprevisível, pois um soco pode acabar com a luta. O (Thiago) Marreta é um cara que lutou bem com ele, mas o Jon Jones é um cara que vence e convence. Acho que o diferencial dele é a envergadura, é muito inteligente. Quando ele quer lutar no chão, ele luta no chão, se ele quiser lutar em pé, ele fica em pé. Ele consegue adequar seu jogo muito bem. Por ser um cara muito eclético, muda o jogo de acordo com o adversário. Cada luta ele é diferente. Quem diria que ele iria derrubar e finalizar o Gustafsson? Contra o (Daniel) Cormier ele já ficou em pé. Ele é um cara muito eclético.
Acredita que ele só irá perder se for para o peso-pesado?
- Eu acho que ele não vai para o peso-pesado, porque ele está bem nessa categoria. Acho que qualquer um pode vencê-lo porque um soco pode mudar uma luta. Mas contra qualquer um que ele for lutar ele vai ser o favorito.
Há um debate sobre o melhor lutador da história. Falam em Fedor Emelianenko, Anderson Silva... Você acha que o Jon Jones entra nessa discussão?
- Eu apontaria o Jon Jones, hoje, como o maior de todos os tempos.
No sábado, a transmissão ao vivo e exclusiva do UFC São Paulo no Combate começa às 18h15 (horário de Brasília), com o "Aquecimento Combate". O SporTV 2 e o Combate.com exibem as duas primeiras lutas do card preliminar ao vivo; o site acompanha o torneio inteiro em Tempo Real. Na sexta-feira, Combate, Combate.com e SporTV 2 exibem a pesagem cerimonial ao vivo, a partir de 17h30.
UFC São Paulo
16 de novembro, em São Paulo
CARD PRINCIPAL (22h, horário de Brasília):
Peso-meio-pesado: Ronaldo Jacaré x Jan Blachowicz
Peso-meio-pesado: Maurício Shogun x Paul Craig
Peso-leve: Charles do Bronx x Jared Gordon
Peso-médio: Antônio Arroyo x André Sergipano
Peso-médio: Markus Maluko x Wellington Turman
CARD PRELIMINAR (19h, horário de Brasília):
Peso-meio-médio: Serginho Moraes x James Krause
Peso-pena: Ricardo Carcacinha x Eduardo Garagorri
Peso-leve: Francisco Massaranduba x Bobby Green
Peso-meio-médio: Warlley Alves x Randy Brown
Peso-pena: Douglas D'Silva x Renan Barão
Peso-mosca: Ariane Lipski x Veronica Macedo
Peso-galo: Vanessa Melo x Tracy Cortez
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