Novo estádio do Tottenham terá setor para torcida de pé; entenda por que esse modelo é visionário

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Pegaso
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Novo estádio do Tottenham terá setor para torcida de pé; entenda por que esse modelo é visionário

Mensagem por Pegaso » 02 Jan 2019 12:19

O atraso se arrasta por meses, mas quando finalmente for inaugurado, o novo estádio do Tottenham terá um diferencial em relação a todos os outros do Campeonato Inglês: a possibilidade de torcer de pé. Tal comportamento é proibido nas duas primeiras divisões da Inglaterra há quase 30 anos, mas os Spurs vislumbram que a crescente mobilização de torcedores deve mudar essa realidade em breve.

O modelo que permitirá que o clube se prepare para esse futuro sem desrespeitar as regras do presente se chama, em inglês, safe standing, algo como “de pé de forma segura”, em português.

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É importante ressaltar que não se trata de uma "geral" como os torcedores brasileiros estão familiarizados. É uma estrutura mais segura, com lugares marcados e possibilidade de conversão para utilização de assentos, requisito para jogos internacionais com chancela da Uefa ou da Fifa.

No caso do Tottenham, a arquibancada sul do novo estádio foi a designada para o safe standing. Lá estarão 17.500 dos 62 mil lugares, sem qualquer alteração da capacidade total.

A título de comparação, o Westfalenstadion, do Borussia Dortmund, recebe 15 mil torcedores a mais em jogos do Campeonato Alemão, nos quais utiliza uma "geral" à moda antiga. Salta de 66.099 para 81.359 lugares.

Evitar a superlotação, no entanto, é um dos pilares do novo sistema e um marco para tentar afastar as lembranças da tragédia de Hillsborough, responsável por uma revolução no futebol inglês no fim da década de 80.


A tragédia que mudou a forma de torcer na Inglaterra


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As gerais, chamadas de "terraces" na Inglaterra, foram banidas das duas primeiras divisões do país em resposta à tragédia de Hillsborough, em 1989. Em 15 de abril daquele ano seria disputada a semifinal da Copa da Inglaterra entre Liverpool e Nottingham Forrest, no Hillsborough Stadium, em Sheffield. Mas o jogo foi interrompido ainda nos primeiros minutos.

Apenas uma das sete catracas de acesso ao setor conhecido como Leppings Lane Terrace estava funcionando propriamente, o que atrasou a entrada dos fãs e gerou uma aglomeração do lado de fora.

IMAGEM FORTE ABAIXO

Para minimizar a confusão que se formava no entorno, a polícia autorizou a abertura de um portão de saída. Mas os torcedores que por ali entraram acabaram superlotando a já cheia "geral" e pressionando quem estava junto às grades. Noventa e seis torcedores do Liverpool morreram e mais de 700 ficaram feridos.

À época, os próprios torcedores foram apontados pelas autoridades como culpados pela tragédia - foram citados o alto consumo de álcool e o comportamento violento. Só em 2012 as autoridades reconheceram que a culpa foi dos responsáveis pelo policiamento. O caso levou o então primeiro-ministro britânico, David Cameron, a pedir desculpas formalmente às famílias das vítimas.



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O chamado Relatório Taylor, que indicou diretrizes para que episódios assim nunca mais se repetissem, indicou que as gerais deveriam ser extintas, e que os estádios das duas primeiras divisões deveriam ter apenas arquibancadas com cadeiras para se tornarem ambientes mais familiares.

Margaret Aspinall é presidente do Grupo de Apoio às Famílias de Hillsborough. Perdeu o filho James, de 18 anos, na tragédia. Para ela, afrouxar a legislação e permitir que os torcedores voltem a torcer de pé é um retrocesso.

- Seria um enorme passo atrás. Não houve feridos graves nem ninguém morreu desde que os estádios passaram a ser com assentos para todos. Esse foi o legado que os 96 mortos deixaram. Eles não tiveram escolha, infelizmente. Eles estavam de pé e perderam suas vidas. E gostaria de pensar que isso não foi em vão.


O exemplo de sucesso vem da 3ª divisão

No Reino Unido, o primeiro time a usar o safe standing foi o Celtic, da Escócia. O clube adotou o chamado rail seating, algo como “assento com corrimão”, em português. Este também foi o modelo usado pelo Shrewsbury Town, da 3ª divisão da Inglaterra. Pioneiro no país, o clube substituiu em maio 555 dos 9875 assentos do estádio New Meadow a pedido – e com dinheiro – dos torcedores.

Os fãs arrecadaram 65 mil libras, cerca de R$ 320 mil, para trocar as cadeiras tradicionais pelos modelos dobráveis. A campanha atual do time não é das melhores, é apenas 17º na League One. Mas a nova arquibancada é motivo de orgulho do clube, e é de lá que os torcedores mais barulhentos dão sua contribuição ao elenco.

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- A atmosfera do jogo melhorou muito. É muito mais fácil cantar em pé do que sentado, então virou um setor muito animado e isso é ótimo para o time – disse o presidente do Shrewsbury, Brian Caldwell.

O modelo específico utilizado pelo Shrewsbury não é aprovado pela Premier League (é diferente do que está sendo instalado pelo Tottenham), mas serve de inspiração para todas as equipes antenadas com esta tendência.

- Sentimos que os olhos do mundo do futebol estão sobre nós. Clubes da segunda divisão estão começando a olhar para isso e em divisões menores também, estamos abrindo um novo caminho – disse o presidente da associação de torcedores, Roger Groves.

No início deste ano, uma petição online pedindo ao governo a liberação do safe standing reuniu mais de 100 mil assinaturas. Uma pesquisa da English Football League (EFL), responsável pelos campeonatos da segunda, terceira e quarta divisões, revelou que 94% dos 33 mil entrevistados são a favor da mudança.

O parlamento britânico debateu o assunto em junho, e agora aguarda o resultado de estudos sobre o impacto da implementação do sistema. Só então será possível avaliar uma eventual revisão da legislação. Apesar de também aguardar uma análise mais profunda do tema, a Football Association (FA), que rege o futebol no país, se mostrou favorável.

- A FA apoia o anúncio da Ministra do Esporte Tracey Couch, em junho, pela condução de “análise externa de evidência em relação à política de estádios exclusivos com assentos” e apoia que clubes e ligas tenham a opção de escolher de querem oferecer opções em pé para os torcedores caso haja clara evidência que satisfaça as autoridades sobre segurança e proteção – diz a nota oficial.

Assim como o Tottenham, o Manchester City também quer estar pronto para a eventual mudança. Aproveitou uma pesquisa junto aos torcedores sobre uma possível reformulação da tribuna norte, para aumentar a capacidade do estádio, para saber a opinião sobre a introdução do safe standing. Nas simulações apresentadas, há até preços de ingressos: 280 libras pelo ticket de temporada mais barato.

https://sportv.globo.com/site/videos/sp ... ario.ghtml


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